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Diário de Gostoso 2022 | 3º dia | Por Sérgio Alpendre

3º dia da Mostra de Cinema de Gostoso
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O sol está forte como sempre aqui em Gostoso. O vento parece mais impiedoso que em outros anos, o que compensa um pouco o calor. Nos ambientes fechados, só o ar-condicionado salva. E do quarto da pousada dá para ver o mar. Situação ideal para um super calorento como eu.

A Sessão Panorama da Mostra de Cinema de Gostoso deste domingo começou com dois curtas. Tekoha, de Carlos Adriano, denuncia a violência contra os Guarani-Kaiowá, incentivada pelo governo dos últimos quatro anos. Com excesso de estatísticas e créditos invasivos, é um trabalho menos marcante de um diretor sempre importante. Em seguida, Um Tempo para Mim, de Paola Mallmann, até que começa bem, com alguns planos que revelam a vontade de trabalhar criativamente com o enquadramento, mas logo se torna um filme pouco imaginativo sobre o amadurecimento de adolescentes indígenas.

Minha baixa resistência ao calor da tenda improvisada me impediu de ver o longa da sessão, Bem-Vindos de Novo, de Marcos Yoshi. Mas segundo minha alma gêmea Carla Oliveira, que é muito melhor crítica que eu, é um documentário pessoal, bastante tocante, que fala da separação entre pais e filhos descendentes de japoneses, motivada por questões financeiras, e o esforço para manter os vínculos familiares apesar das separações.

Filmes da noite de domingo

Na sessão noturna, vimos dois curtas corretos, no máximo: o potiguar A Cabaça da Criação, de Gil Leal, Altemir Avilis e Ramon Bezerra, mesma turma e mesmo estilo do curta de ontem, Cordel do Vila: A Rainha Louca Contra o Escandaloso, mas com resultado muito mais tímido, e o interiorano paulista Ainda Restarão Robôs nas Ruas do Interior Profundo, de Guilherme Xavier Ribeiro, que tem imagens interessantes e uma ideia de replicar, no mundo real, os robôs que desequilibram as redes no mundo virtual.

O quente da noite, contudo, foi o longa A Mãe, de Cristiano Burlan, que começa morno, mas evolui para uma meia hora final impressionante. Mostra o pendor para o extermínio de pobres da periferia dos homens de farda mal preparados, que desconhecem valores humanos. Denúncia forte sobre a falta de perspectiva de jovens rapazes num contexto em que a violência policial prevalece, A Mãe traz Marcélia Cartaxo num papel que ela normalmente tira de letra, com um rapper de verdade, o talentoso Dustin Farias, como seu filho desaparecido. Nos momentos mais politizados do longa de Burlan, a plateia aplaudia em cena aberta. Os últimos anos desmoralizaram ainda mais as instituições militares, por culpa delas mesmas.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

(foto: perfil da Mostra de Cinema de Gostoso no Facebook)

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