Drácula: A Última Viagem do Deméter leva para as telas uma parte do livro “Drácula”, de Bram Stoker. Especificamente, se baseia no diário de bordo do navio que transportou o vampiro da Romênia para a Inglaterra, em 1897.
Na trama deste longa, os romenos se livram dessa criatura colocando-a em uma das caixas no pequeno navio. Nesse aspecto, surge até uma ponta de suspeita sobre uma possível alegoria com imigrantes do leste europeu que tentam a vida na Inglaterra. Mas, deve ser apenas uma desconfiança infundada. Deixando isso de lado, voltemos então ao enredo, que engloba essa viagem marítima. Surgem as primeiras vítimas, mortas de forma misteriosa. Um dos tripulantes, o médico Clemens (Corey Hawkins), consegue salvar a vida de uma moça clandestina, Anna (Aisling Franciosi), enquanto o Capitão Eliot (Liam Cunningham) tenta proteger sua tripulação dessa ameaça que se torna cada vez mais perigosa.
Um Drácula bestial
O Drácula deste filme não tem nada de romântico. Pelo contrário, é uma criatura bestial, que nem sequer fala. Mas, ele sabe que está indo para uma cidade populosa, ou seja, onde será fácil se alimentar. Por isso, ele mantém Anna como fonte de sangue para beber em doses racionadas para poder aguentar a viagem. Apesar dessa inteligência, sempre quando o Drácula aparece na tela, ele age como um animal predador guiado apenas pelo seu instinto.
A aparência do vampiro lembra a do Nosferatu (1922), de F. W. Murnau – filme que ganhará uma nova versão dirigida por Robert Eggers (já em pós-produção). O longa de Murnau inclui essa viagem como um dos seus atos. Mas, no lugar dos poderes de telepatia com seus seguidores infectados, temos aqui uma criatura com força descomunal, capaz até de voar. Essa caracterização vai ao encontro da configuração que o filme toma, que se enquadra mais no gênero ação do que no terror.
Mais ação que terror
Estão ausentes os elementos que poderiam criar suspense, medo ou sustos. Não encontramos aqui uma música sinistra, fotografia escura, enquadramentos ou movimentos de câmera que valorizem a aparição do monstro, nem jump scares ou violência gráfica. O foco todo está no enfrentamento da criatura movido, principalmente, pelo protagonista Clemens. Por um lado, isso deixa o filme bem movimentado. Mas, por outro, frustra quem entra na sessão para se assustar.
A produção merece elogios quanto à reconstituição de época. O navio e os personagens realmente são convincentes. Mas o Drácula em si, interpretado pelo ator Javier Botet com muita maquiagem e próteses, e provavelmente grande dose de computação gráfica, nunca parece tão assustador quando devia. Faltou, com certeza, um capricho maior, nesse sentido, do diretor André Øvredal, que antes fez Histórias Assustadoras para Contar no Escuro (2019), sob a tutela de Guillermo del Toro. Em suma, encontramos aqui mais ação do que terror.
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Ficha técnica:
Drácula: A Última Viagem do Deméter | The Last Voyage of the Demeter | 2023 | 118 min | Estados Unidos da América, Reino Unido, Malta, Itália, Alemanha | Direção: André Øvredal | Roteiro: Bragi F. Schut, Zak Olkewicz | Elenco: Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Chris Walley, Jon Jon Briones, Stefan Kapicic.
Distribuição: Universal Pictures.
Trailer aqui.