A Ausência Que Seremos conta a história do médico sanitarista e professor universitário colombiano Héctor Abad Gómez (1921-87), com roteiro baseado no livro escrito por seu filho Héctor Abad. Defensor de causas sociais e dos direitos humanos, ele foi executado pelo esquadrão da morte.
Tom agradável
Apesar do destino trágico do personagem real retratado no filme, A Ausência Que Seremos possui um tom agradável. E isso resulta do filtro da percepção infantil de Quiqui, o filho de Héctor Abad Gómez. Afinal, a maior parte do relato se concentra na época em que o garoto entrava na adolescência, nos anos 1970. Assim, acompanhamos a rotina da família numerosa dos Abad, formada pelos pais, Quiqui e suas cinco irmãs. E o ambiente na casa de classe média era alegre, conduzida por um pai muito amoroso, principalmente com o único rapaz entre os filhos.
Paralelamente, entre as aventuras de Quiqui, descobrimos um Dr. Abad cada vez mais ativo na pesquisa das precárias condições sanitárias da cidade onde vive, Medelín. Como resultado de suas inconformadas denúncias sobre a saúde pública, tanto em aula como em artigos e entrevistas, ele é taxado de comunista. Apesar disso, ele preferia manter uma posição política de centro. Logo, perdeu seu emprego como professor e precisou trabalhar em outro país durante algum tempo.
Dessa forma, esse ambiente alegre com a ameaça política de fundo, nos anos 1970, contado por um garoto, logo remete ao belo filme brasileiro O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (2006).
Tragédia
Eventualmente, essa fase alegre da vida de Quiqui se encerra no filme com uma tragédia. E o experiente diretor espanhol Fernando Trueba traduz essa infância do garoto com leveza. Nesse sentido, todos os membros da família são agradáveis, e Quiqui é especialmente carismático. Adicionalmente, há toques de nostalgia, como nas canções cantadas por Clara, uma das suas irmãs. Nesse sentido, vale destacar o trecho em que Quiqui grava em uma fita cassete uma mensagem para o pai que está trabalhando no exterior. Enquanto ele narra os últimos acontecimentos familiares, uma montagem conta isso em imagens, numa esperta solução para dar agilidade ao ritmo do filme.
Jovem adulto
Por outro lado, A Ausência Que Seremos também revela alguns momentos do jovem adulto Quiqui. Primeiro, em 1983, quando ele está estudando em Turin, na Itália, e retorna a Medelín para comparecer à homenagem dos estudantes ao pai que a universidade aposentou compulsoriamente. Ainda que contado brevemente, esse período marca um estremecimento na relação dele com o pai, pois este gostaria que ele se envolvesse também nas questões sociais do país.
Depois, acompanhamos os últimos dias da vida do Dr. Abad. E o resultado que já conhecemos é o seu assassinato, cujo impacto o filme valoriza, até com uma dose exagerada. Nesse sentido, o filme dedica vários minutos ao impacto da morte em cada membro da família. De fato, é compreensível que tenha sido uma experiência devastadora para Quiqui, autor do livro que deu origem ao roteiro. Mas, na tela, o resultado chega a ser opressor por enfatizar demais essa tragédia.
Por fim, é notável que Fernando Trueba tenha optado por diferenciar pelas cores. E faz isso contrariando o lugar comum. Ou seja, a época antiga está em cores e a mais recente em preto e branco. Na verdade, essa escolha faz sentido no filme, pois a época mais feliz está colorida.
Assim, A Ausência Que Seremos não só resgata a memória de uma figura importante para a história colombiana. Acima de tudo, é uma emocionante viagem nostálgica por uma infância vivida em uma família repleta de amor.
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Ficha técnica:
A Ausência Que Seremos | El Olvido Que Seremos | 2020 | Colômbia | 136 min | Direção: Fernando Trueba | Roteiro: David Trueba | Elenco: Javier Cámara, Sebastián Giraldo, Aida Morales, Whit Stillman, Patricia Tamayo, Juan Pablo Urrego.
Nota: assistimos a esse filme nas sessões da THE WRAP AWARDS & INTERNATIONAL SCREENING SERIES.
