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Ela e Eu (filme)
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Ela e Eu | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Alguns filmes são concebidos ou se tornam verdadeiros presentes para uma atriz ou um ator. Normalmente, isso acontece quando não imaginamos outra pessoa num determinado papel, tamanha a força com a qual é desenvolvido. Em Ela e Eu, de Gustavo Rosa de Moura, não imaginamos outra atriz no papel de Bia, a não ser Andrea Beltrão.

A experiente atriz que se tornou estrela na série Armação Ilimitada (1985-1988), chega a esta altura como uma das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, capaz de carregar nas costas qualquer filme. Mesmo os ruins tornam-se passáveis por causa de sua presença sempre marcante.

Bia entrou em coma no nascimento de sua filha. Ela passou 20 anos sendo cuidada pelo ex-marido Carlos (Eduardo Moscovis), pela nova mulher dele, Renata (Mariana Lima), e pela filha Carol (Lara Tremouroux), que Bia não chegou a conhecer. Elas ainda contam com Sandra (Karine Telles), moça contratada para auxiliar nos tratos enquanto os outros trabalham ou estudam.

O filme inicia um pouco antes do despertar de Bia. Antes o suficiente para entendermos como é o cotidiano dessa família nos cuidados com uma pessoa inconsciente. Porque isso tudo irá mudar conforme Bia precisa aprender a falar, ouvir, ver, se movimentar, após 20 anos enclausurada em um mundo interior, sem sair da cama.

Esse, obviamente, não é o pior dos problemas. A situação do casal principal é duramente afetada pela saia justa de Carlos com as duas mulheres, a do passado e a do presente. Entendemos todos os sentimentos despertados por essa confusão: desespero e raiva são frequentes, mas também a piedade e o ciúme. Tudo isso pode surgir ao mesmo tempo, o que ajuda a deixar a situação ainda mais problemática.

Naturalismo e melodrama

Para contar essa história de reajuste e superação, Gustavo Rosa de Moura arrisca-se no naturalismo e no melodrama. O primeiro é praticamente uma exigência do cinema narrativo brasileiro, e por vezes costuma ser confundido, com ou sem razão, com telenovela. Não à toa, Moura coloca uma cena de sexo oral para salientar a diferença, e quando a existência da cena se justifica unicamente por isso, algo está errado.

Esta é a maior dificuldade de se trabalhar nesse registro, sobretudo em paralelo com o segundo registro, o do melodrama. Este é quase um tabu no cinema brasileiro dos últimos vinte anos, como se fosse uma vergonha mostrar situações que nos emocionem, ainda mais quando interpretadas por um elenco afinado e dirigidas sem o receio de ser verdadeiramente melodramático – o choro de Bia ao receber um presente, por exemplo, ainda que filmada de perfil, sem um ângulo mais frontal que reforçasse o sentimento.

Beltrão arrasa como sempre, compondo uma Bia divertida, receosa, mas com um prazer de viver que contagia alguns personagens. É muito bonita a cena em que eles mostram fotos para explicar quem é quem, e a reação da atriz envolve uma série de sentimentos difíceis de serem externados. Moscovis, Lima, Tremouroux e, principalmente, Telles, também estão muito bem, o que intensifica os momentos mais dramáticos e ajuda também nos respiros cômicos.

Ela e Eu é um filme geralmente agradável de se ver, em que os poucos momentos que me pareceram deslocados são compensados pela força nas interpretações. É cinema de atriz, sem grandes achados cinematográficos, mas é preciso alguém hábil por trás da câmera para compreender e permitir que esse cinema floresça.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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