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Poster do filme "Rivais"
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Rivais

Avaliação:
5,5/10

5,5/10

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Crítica | Ficha técnica

O diretor Luca Guadagnino às vezes se perde num desagradável exagero. Caiu nesse erro no terror Suspíria – A Dança do Medo (Suspiria, 2018), com longuíssimas cenas de membros retorcidos que torturam o espectador. E também em seu novo filme, Rivais (Challengers), por conta da insistência em recorrer ao uso da música eletrônica. O efeito do seu exagero se assemelha nesses dois filmes: arrancar o público da situação de segurança. Se antes expôs a tortura física, agora arremessa para o êxtase de uma rave repleta de drogas. A intenção aqui é emparelhar com os sentimentos exacerbados dos personagens em cena. Poderia funcionar em alguns momentos, mas Guadagnino recorre repetidamente a esse expediente. E se torna cansativo.

Aliás, vai além no quesito trilha sonora. Rivais é um exemplo de como não usar a trilha musical. O tema da personagem de Zendaya, por exemplo, entra no filme de maneira intrusiva, deixando evidente o intuito de explorar a imagem dessa atriz que se tornou a celebridade sensação dos últimos anos. Não só esse leit motiv, mas também algumas linhas do diálogo reforçam esse trampolim para o pedestal. Juntando a música com a câmera lenta, Zendaya parece desfilar numa passarela de desfile de moda.

Voltando à trilha musical, a conversa entre os três protagonistas à beira da praia é um claro exemplo de que ficaria bem melhor sem música de fundo, pois o barulho das ondas seria o suficiente, e o ideal, para acompanhar esse gostoso bate-papo. Além disso, a escolha da música geralmente é errada. Por exemplo, o coro de igreja na cena em que a tenista se dá conta que não pode mais jogar.

Acrobacias

Acompanha a trilha eletrônica a movimentação acrobática da câmera. Guadagnino potencializa o estilo dos Irmãos Coen em início de carreira. E o repertório do diretor italiano é vasto, mas uma das novidades é a bola de tênis que passa velozmente bem rente à câmera, efeito repetido várias vezes no filme. Se não fossem acompanhados dessa insistente música de rave, esses movimentos todos não soariam tão exagerados.

Na verdade, o exagero até pode funcionar, se adequadamente empregado, como prova o trecho do último ponto da partida decisiva. Nela, se sucede uma avalanche de efeitos, desde a câmera subjetiva da bola, a planos gerais do alto, por baixo (com os tenistas em cima de um vidro, lembrando Seijun Suzuki) e outros, com um resultado magnífico que fecha o longa com seu melhor momento.

O vai e vem da narrativa

Por outro lado, a estrutura narrativa de Rivais complica demais o enredo. Começa pela partida final entre Art Donaldson (Mike Faist) e Patrick Sweig (Josh O’Connor), ambos já na casa dos 30 anos. O torneio é o Challengers, de pouca expressão. Para o muitas vezes campeão Art, faz parte do processo de recuperação da sua melhor forma. Para Patrick, esses campeonatos são seu ganha-pão. Os dois são amigos desde os 12 anos, e se apaixonaram pela mesma mulher, a promissora tenista Tashi Donaldson (Zendaya), quando todos tinham 18 anos. Um deles se casou com ela, e o casal não viu mais o outro por anos. O reencontro abala a situação de todos.

Isso tudo, ainda que resumido para não estragar o objetivo do roteirista Justin Kuritzkes, surge na história em conta-gotas, através de vários trechos fora de ordem cronológica, identificados em cartelas que contam o tempo tendo esse jogo como ponto zero. O que o enredo quer, afinal, é que o espectador se surpreenda com as revelações sobre como esse trio se relacionou ao longo dos anos. Contudo, essa configuração picotada também descamba no exagero.

Personagens com defeitos

Somam-se aos exageros na narrativa não linear e no uso da trilha musical os personagens cheios de defeitos. Tashi parece se aproximar da personagem de Jeanne Moreau em Jules e Jim (1962), de François Truffaut, pois gosta dos dois homens que estão apaixonados por ela. Mas a diferença é que Tashi não ama nenhum deles, chega a ser até cruel com eles. Pensando em seu próprio interesse, quer (e consegue) o que os dois têm a oferecer. Ou seja, a segurança e o sucesso de Art, de quem vira treinadora, e o charme e o sexo de Patrick. E acaba por destruir a amizade entre os dois homens.

Por isso, o desfecho possui uma força incrível – acima de tudo, pela dramaturgia, mas também embalada no estilismo de Guadagnino que, nesse trecho, está adequado.

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Ficha técnica:

Rivais | Challengers | 2024 | 131 min | EUA | Direção: Luca Guadagnino | Roteiro: Justin Kuritzkes | Elenco: Zendaya, Mike Faist, Josh O’Connor, Bryan Doo, Shane T. Harris.

Distribuição: Warner Bros.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Uma mulher sentada na cama com dois homens beijando seu pescoço
Cena de "Rivais"
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