Pesquisar
Close this search box.
Em Carne Viva (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Em Carne Viva

Avaliação:
5/10

5/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Com Em Carne Viva (In the Cut, 2003), de Jane Campion, Meg Ryan abandona o título de princesa das comédias românticas. A atriz fica nua, protagoniza várias cenas de sexo picante e vive uma personagem emocionalmente frágil. Ela é Frannie, uma professora de colégio em um bairro pobre de Nova York. Sua meia irmã, Pauline (Jennifer Jason Leigh), ganha a vida como garota de programa e, por isso, Frannie transita pelo submundo de Nova York.

A trama policial coloca Frannie como uma testemunha dos recentes assassinatos em série no bairro. As duas últimas vítimas, degoladas e esquartejadas pelo serial killer, estão de alguma forma ligadas a Frannie. Pedaços do corpo de uma delas estavam no jardim em frente ao prédio onde ela mora. Já a outra vítima estava no mesmo bar na mesma hora que ela.

Um thriller psicológico

A diretora neozelandesa Jane Campion ganhou destaque com seu filme O Piano (The Piano, 1993), um mergulho profundo na psicologia de sua protagonista. Vivida por Holly Hunter, a personagem era uma britânica enviada para um casamento arranjado na Nova Zelândia em 1850. Em Carne Viva tenta repetir essa abordagem psicológica na protagonista Frannie. Porém, seu enredo é, essencialmente, um filme de gênero. E Jane Campion mistura essa essência de thriller de suspense com o drama psicológico, assim prejudicando ambos os intentos.

A direção de arte e a fotografia, esta do diretor de fotografia Dion Beebe, que receberia o Oscar por Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Gueisha, 2005), constroem um envolvente clima lúgubre adequado aos horríveis assassinatos em série da trama. Os tons verdes musgos e marrons, as cenas escuras, os ambientes sujos e degradados, predominam no filme. Aliás, as cenas mais claras compõem o pesadelo recorrente de Frannie no qual ela fantasia o primeiro encontro entre seu pai e sua mãe, que começa romântico e termina em violência.

Fragilidade psicológica

Contudo, Jane Campion quer enfatizar o estado de fragilidade psicológica da protagonista. Por isso, toda a narrativa está na perspectiva de Frannie, o que resulta num filme exageradamente estilizado. Junto com a óbvia câmera trêmula, Campion usa enquadramentos esquisitos, planos curtos com cortes abruptos, bordas desfocadas. Além disso, Meg Ryan usa maquiagem opaca, cabelos castanhos e roupas compridas (que depois se encurtam conforme ela se abre para o sexo).

O sexo, aliás, permanece como pano de fundo durante todo o filme. A princípio, Frannie se sente desconfortável com sua sexualidade, o que cria um contraste com sua meia-irmã que é uma garota de programa. Por isso, parece não perceber que seu aluno a deseja. Então, quando conhece o detetive Giovanni Malloy (Mark Ruffalo), a volúpia sexual reprimida eclode. Primeiro, ela a alivia através da masturbação, mas depois não resiste e se entrega a Malloy, um viciado em sexo que fala sacanagem o tempo todo.

Ainda na construção psicológica de Frannie, ela parece desiludida com os homens. E esse sentimento vem do fato, reproduzido em seu pesadelo, de seu pai ter largado a esposa para se casar com outra mulher que conheceu em trinta minutos. De fato, nenhum dos homens à sua volta parecem prestar: o detetive Malloy e seu parceiro, o stalker vivido por Kevin Bacon e o seu aluno, que a agride em certo momento. Nesse ponto, Em Carne Viva se aproxima de O Piano, pois neste o marido era violento.

Suspense enfraquecido

No entanto, esse mergulho psicológico acaba afundando o suspense de Em Carne Viva. Principalmente, porque o filme apresenta uma enorme onda de pistas falsas, que nos fazem desconfiar de todos os personagens masculinos. Nesse quesito, o stalker soa tremendamente forçado, como se inserido apenas para ludibriar o espectador. Até mesmo a própria Frannie entra na lista de suspeitos, por conta dos pesadelos com o pai, e, também, porque sua perspectiva (que conduz a narrativa) parece influenciada por efeitos de drogas.

Por outro lado, Em Carne Viva tem o mérito de quebrar a imagem “Doris Day” de Meg Ryan. Por coincidência, ou não, a canção que abre e fecha o filme é “Whatever Will Be, Will Be (Que Sera, Sera)”, sucesso da atriz-cantora que ficou conhecida por sua persona virginal. A nudez total, em parte encoberta pelas sombras, a masturbação e as cenas de sexo sinalizam a intenção de Meg Ryan de ousar mais em sua carreira. Antes, caminhara nessa direção ao viver a namorada de Jim Morrison em The Doors (1991), mas num papel menor. Posteriormente, assumiu alguns papéis de mulheres fortes, mas nenhum tão arrojado sexualmente. Na verdade, Meg Ryan nunca mais estrelou um grande sucesso de bilheteria.

Contudo, o que é mais essencial é que Em Carne Viva não engaja como thriller nem como drama psicológico. As pistas falsas, a profusão de personagens masculinos odiáveis e o estilismo sufocante acabam por arruinar o prazer de desvendar quem é o serial killer.


Em Carne Viva (filme)
Em Carne Viva (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo