A atriz Frances O’Connor estreia no roteiro e na direção com o filme Emily, uma versão romanceada da história da autora do livro “O Morro dos Ventos Uivantes”. A trama se concentra no período que precedeu a criação da obra literária e segue até a precoce morte de Emily Brontë, em 1948, aos 30 anos, pouco tempo depois da sua primeira e única publicação literária. O gatilho para esse relato, no filme, não é original e muito menos sutil: sua irmã Charlotte lhe indaga como ela conseguiu a vivência necessária para escrever a obra. Em seguida, um plano em close-up com Emily olhando para a câmera serve para indicar que se iniciará a narrativa.
A construção da personalidade da biografada provavelmente partiu do prólogo do livro, criado por Charlotte – também escritora e autora de “Jayne Eyre”, entre outros. Nele, a irmã descreve como Emily era antissocial e, por isso, chamada de esquisita por muitas pessoas da pequena cidade irlandesa onde moravam. Mas o filme não consegue caracterizá-la dessa forma. Há até uma sequência, mal explicada, na qual somente imagens mostram Emily indo para a escola com a irmã, passando mal e retornando para casa. Na verdade, a primeira parte do longa-metragem, supostamente dedicado a apresentar a protagonista, é bem fraquinha. Não cumpre sua função e ainda revela Emily como uma pessoa sem graça.
Freedom in thought
Mas o filme melhora quando o irmão artista e rebelde, Branwell (Fionn Whitehead), se torna mais próximo de Emily e abre novas portas para ela. O espírito da “liberdade em pensamento” vai do grito do topo das montanhas até as tatuagens nos braços, e passa pelo álcool, pelo ópio e, finalmente, pelo sexo. Este último vem acompanhado do amor apaixonado, tendo como alvo um par improvável, o pároco e tutor de Emily. No entanto, esse mergulho vertiginoso trará também as dores pela perda dos maiores amores de sua vida. Com essa experiência, a futura autora se debruça para escrever sua obra-prima, respondendo, assim, à questão forçada do gatilho que iniciou essa narrativa.
Enfim, apesar da primeira parte trôpega, e da despreocupação em se manter fiel à biografia da protagonista, Emily possui sua força dramática. A diretora Frances O’Connor acerta ao filmar esse recorte da vida da escritora com cenas curtas, em tons variados, refletindo bem a personalidade ainda em construção da mulher que procurava ainda seu lugar na família e na sociedade.
Emily estreia nos cinemas no dia 29 de dezembro de 2022.
___________________________________________
Ficha técnica:
Emily | Emily | 2022 | 130 min | Reino Unido, EUA | Direção e roteiro: Frances O’Connor | Elenco: Emma Mackey, Oliver Jackson-Cohen, Fionn Whitehead, Alexandra Dowling, Amelia Gething, Adrian Dunbar, Gemma Jones, Veronica Roberts.
Distribuição: Imagem Filmes.
Trailer: