A personagem Enola Holmes é uma criação livre da escritora Nancy Springer baseada na obra de Arthur Conan Doyle. O primeiro livro sobre essa irmã caçula de Sherlock Holmes saiu em 2006 e, desde então, formou uma série que já conta com sete exemplares. Coube à Netflix a adaptação do primeiro livro para as telas, com roteiro de Jack Thorne, de Radioactive (2019). A direção é de Harry Bradbeer, cineasta acostumado a realizar filmes e séries para a TV.
O filme Enola Holmes aposta forte no carisma da jovem atriz Millie Bobby Brown, que ganhou fama com a série Stranger Things, também da Netflix. A personagem-título representa um novo desafio para Millie, pois ela precisa provar sua versatilidade. Há momentos dramáticos, de ação e de comédia, e até a quebra da quarta parede, falando diretamente com o espectador. Nesse sentido, deu certo, mas a atriz é um dos poucos pontos fortes dessa produção.
Outro recurso que funciona, e que se alinha com o despojamento da quebra da quarta parede, são os gráficos, os desenhos divertidos, com características que remetem ao final do século 19, época do filme. O diretor Harry Bradebber emprega esses elementos para descontrair, mas também para acelerar a narrativa que, na verdade, transcorre num ritmo lento demais.
Pouco Sherlock
Mas o maior defeito do filme é que ele pouco explora o rico universo do personagem Sherlock Holmes. Ele aparece na história, interpretado por Henry Cavill, juntamente com o irmão mais velho Mycroft (Sam Claflin). Mas Sherlock mal tem oportunidade de demonstrar seu invejável poder de dedução. E, para não ofender os leitores fãs de Conan Doyle, Sherlock é o bonzinho na trama, e defende Enola das artimanhas de Mycroft, oficialmente o tutor da garota.
Fica a expectativa de que Enola tenha a mesma genialidade de Sherlock, e ela tem a oportunidade de testar seus talentos em dois casos simultâneos. O primeiro, o que movimenta a narrativa principal, é o desaparecimento de Eudoria (Helena Bonham Carter), sua excêntrica mãe que a criou sozinha. Pena que suas investigações a respeito desse sumiço, que até motiva o retorno dos irmãos à casa da família, ganhe menos atenção do que o paradeiro do jovem lorde Tewkesbury (Louis Patridge), embora esse mistério tenha mais relação com as aventuras originais de Sherlock Holmes.
Por fim, o que fica é a sensação de que o filme está mais propenso a agradar o público em busca de aventuras juvenis, do que os fãs de Sherlock Holmes.
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Ficha técnica:
Enola Holmes | 2020 | 123 min | Reino Unido | Direção: Harry Bradbeer | Roteiro: Jack Thorne | Elenco: Millie Bobby Brown, Henry Cavill, Sam Claflin, Helena Bonham Carter, Louis Partridge, Burn Gorman, Adeel Akhtar, Susan Wokoma, Fiona Shaw.
Distribuição: Netflix.