Entre Montanhas (The Gorge, desfiladeiro em inglês), lançado pela Apple TV+, segue a fórmula das produções da concorrente Netflix. Ou seja, um enredo surpreendente, um orçamento generoso, atores famosos (Miles Teller, Anya Taylor-Joy, Sigourney Weaver). E, neste caso, um diretor com currículo (muitas vezes, a aposta cai em um cineasta estreante) – Scott Derrickson, de Doutor Estranho (2016) e O Telefone Preto (2021), entre outros.
Já que a história deve supostamente ser o principal ativo deste projeto, vamos a ela. O filme apresenta rapidamente, em paralelo, dois matadores de elite em lugares diferentes. Do lado Ocidental, o norte-americano Levi (Miles Teller); do Oriental, a lituana Drasa (Anya Taylor-Joy). Cada um deles assume um posto à beira de um desfiladeiro enorme. Durante um ano, eles devem vigiar o local. E, mais importante do que ficar de olho no posto à frente, devem ficar atento com o fundo do desfiladeiro, de onde podem vir as maiores ameaças.
Essa separação entre os protagonistas favorece o cinema, pois a comunicação possível se restringe ao visual. No início, eles espionam um ao outro através de poderosos binóculos militares. Depois, conversam através de mensagens escritas em cartazes. Uma fagulha de um inusitado romance surge, e logo os dois se divertem em sintonia, tocando música no máximo volume. O clima de descontração inclui até uma brincadeira extra filme com Miles Teller tocando bateria (referência ao seu personagem de Whiplash [2014]).
Necessidade de surpreender
Entre Montanhas poderia funcionar bem nesse caminho, abrindo espaço para o diretor Scott Derrickson exercitar a forma de filmar. No entanto, a proposta dos realizadores não é alcançar o prestígio, mas sim a maior bilheteria (ou visualizações, por ser lançado no streaming). Então, uma surpresa assustadora interrompe a gestação do romance, na forma de criaturas vindas das profundezas do desfiladeiro. A primeira aparição e o combate conjunto de Levi e Drasa contra os seres que atacam em bando são assustadores e eletrizantes.
Porém, daí para a frente, numa autoimposta necessidade de continuar a crescer a narrativa, o filme começa a desmoronar. Cai no clichê da teoria da conspiração, e no exagero de monstros, tanto na quantidade quanto nas variações. Nem todas assustam – as caveiras com pernas de aranha beiram o ridículo. E parece impossível demais que os personagens sobrevivam a tudo isso, o que acaba levando a soluções forçadas na trama. Além disso, um vídeo encontrado num laboratório explica desnecessariamente o que o espectador já deduziu, erro que o filme comete outras vezes nos diálogos abundantes na parte final.
A mudança de gênero em Entre Montanhas, do romance para o terror, provoca uma inesperada surpresa, mas depois o roteiro cai em armadilhas na tentativa de amarrar tudo dentro da moda da teoria da conspiração. A última meia-hora, por isso, se arrasta lentamente por eventos mais do que previsíveis para, no final, resultar numa conclusão de contos de fadas.
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Ficha técnica:
Entre Montanhas | The Gorge | 2025 | 127 min. | Reino Unido, EUA | Direção: Scott Derrickson | Roteiro: Zach Dean | Elenco: Miles Teller, Anya Taylor-Joy, Sigourney Weaver, Sope Dirisu.