Com extrema rigidez formal, o filme Entre Mortes mostra a jornada de um homem em busca do amor por um caminho onde encontra várias mortes.
A trama
Acima de tudo, Entre Mortes beira o episódico. De fato, seu roteiro está estruturado em capítulos que mostram cada etapa da jornada do jovem Davud, após ele sair de casa de manhã brigando com a mãe. A primeira parada dele é junto a um traficante. Quando um deles xinga a amiga de Davud, este acidentalmente o mata. E, então, passa a ser perseguido por três bandidos da quadrilha.
Ao longo do dia, ele encontra e ajuda uma mulher a cada estágio, e uma morte acontece. Nesse trajeto, narrações com falas enigmáticas surgem nos intervalos, quando há uma reflexão sobre o que acontece e anuncia o que vem em sequência, enfatizado com uma cartela na tela. Adicionalmente, algumas passagens com os personagens se movimentando, com a câmera fixa e música de fundo, sem diálogos, também se repetem várias vezes.
Análise do filme
Essencialmente, a câmera em quase todo o filme é fixa, em plano aberto, salvo poucos movimentos laterais acompanhando os personagens. Às vezes, a câmera está sobre um veículo, filmando o protagonista dirigindo sua moto – há movimento, mas a rigor a câmera está fixa. E essa é a característica que mais evidencia a rigidez formal de Entre Mortes, que acompanha também a estrutura matemática do roteiro, sempre repetindo uma fórmula narrativa.
Da mesma forma, outra constante é a mudança do carro utilizado pelos três bandidos que perseguem Davud. De fato, não é o mesmo veículo durante todo o trajeto, ele sempre é inexplicavelmente diferente. Talvez a intenção do diretor Hilal Baydarov seja mostrar que eles se transformam também, tornando-se cada vez menos perigosos.
E em relação ao protagonista, ele se torna mais humano durante a jornada. Afinal, em boa parte do filme, é difícil enxergar o seu rosto, sempre filmado a certa distância. Então, somente na parte final, há um plano em close-up de Davud. Na conclusão, quando ele retorna para casa, sua atitude com a mãe é diferente daquela que ele demonstrou no início do filme. Mais gentil, ele traz o remédio para a mãe e vai atrás de um copo de água para ela tomar o medicamento. Como se pode notar, é mais uma mulher que ele ajuda no dia, mas o espectador sabe que a fórmula que se repetiu durante cada etapa do filme novamente será aplicada, incluindo o elemento morte.
Conclusão
Concluindo, Entre Mortes apresenta essa construção formal rigorosa como uma qualidade, mas o tom do filme parece exagerar na sobriedade, quando caberia um toque de humor. Os personagens dos bandidos possuem esse potencial, que é desperdiçado. Além disso, o excesso de falas literárias também prejudica o prazer de ver o filme, pois nesses trechos de narração complexa, as imagens parecem mero acessório – o oposto do que se espera de um filme.
Obs: assistimos a esse filme na cabine de imprensa da 44ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Ficha técnica:
Entre Mortes (Sepelenmis Ölümler Arasinda) 2020, Azerbaijão/México/EUA, 88 min. Dir/Rot: Hilal Baydarov. Elenco: Orkhan Iskandarli, Rana Asgarova, Huseyn Nasirov, Samir Abbasov, Kamran Huseynov, Maryam Naghiyeva, Kubra Shukurova.