Estômago II: O Poderoso Chef chega aos cinemas 17 anos depois do filme original, Estômago (2017). O diretor Marcos Jorge e dois dos atores principais, João Miguel e Paulo Miklos, retornam nessa sequência tardia. A unidade artística, portanto, está parcialmente garantida, mas a sensação que predomina é de uma mal elaborada repetição da receita que deu certo.
A estrutura narrativa, maior qualidade do primeiro filme, se repete. Antes mostrava dois enredos paralelos, uma com Raimundo Nonato (João Miguel) iniciando sua carreira de cozinheiro após emigrar do Nordeste para São Paulo, e a outra com ele conquistando uma posição segura dentro da prisão ao se tornar o chef particular do manda chuva do local, Etecétera (Paulo Miklos). Desta vez, entra na história Roberto (Nicola Siri), um ator que visita a mãe na Sicília, onde ela tem um restaurante de comida brasileira. Numa das linhas narrativas, Roberto, que também é cozinheiro, se envolve com uma família mafiosa. Na outra, ele adotou o nome Dom Caroglio e vai parar na mesma prisão no Brasil onde estão Nonato e Etecétera.
Em suma, nos dois filmes, uma parte do enredo mostra os conflitos dentro da prisão e a outra o protagonista, a princípio honesto, se tornando um criminoso. Esta deve ter sido a premissa de Marcos Jorge para realizar essa continuação. Nada mal aplicar novamente uma fórmula vencedora, com algumas variações. Contudo, o roteiro não foi desenvolvido a contento, e o gosto de comida requentada permeia todo o segundo filme.
Uma paródia de filme de máfia?
Um dos erros foi recorrer a outro ingrediente de sucesso: o filme de máfia. O título Estômago II: O Poderoso Chef, por sinal, é um grande erro, pois cria uma impressão de que se trata de uma paródia – como tantas outras que já foram produzidas. De fato, a trama que se desenrola não traz novidades. Da mesma forma que Nonato no primeiro filme, Roberto entra num cenário perigoso depois de se apaixonar por uma mulher.
Não seria justo, no entanto, condenar o filme por falta de criatividade. Repetir fórmulas, ideias e situações, na verdade, faz parte da indústria do cinema. O surpreendente é a exceção. Os problemas de Estômago II: O Poderoso Chef são outros.
Roteiro e direção
Por um lado, o roteiro se enrola em soluções sem sentido. O envolvimento de Roberto com a máfia não convence – o fato de ele estar interessado na filha do chefão não conduz necessariamente a esse resultado. O filme, além disso, não explica por que ele vai para a prisão no Brasil. E ele entende mais de culinária do que Nonato, então, por que ele precisa dele na prisão? Da parte de Nonato, não fica claro o motivo de ele trair Etecétera e pular para o time de Dom Caroglio. Ademais, criar uma rebelião geral para Etecétera matar o italiano parece forçado demais.
Fora isso, a comédia insiste exageradamente na mesma piada do Nonato ingênuo que se mete em enrascadas, mas no final se sai bem. Desta vez, com foco na sua ignorância quanto aos modos e à cultura italiana – o que também soa estranho, pois ele havia trabalhado em São Paulo num restaurante italiano. A figura de Nonato, aqui, virou um esquete humorístico, que sempre insiste na mesma situação cômica.
As explosões e os incêndios na parte final, por outro lado, escancaram o mal uso da computação gráfica (além de serem desnecessários no caso da penitenciária). O diretor Marcos Jorge ainda piora as coisas ao usar reiteradamente a câmera lenta, seja para indicar que Dom Caroglio aprova a comida que experimenta, ou para incrementar a emoção nas cenas de ação.
Estômago II: O Poderoso Chef, assim, provoca a ingrata metáfora, aplicada ao seu tema, da refeição requentada: os ingredientes são os mesmos, mas o gosto já se perdeu, ou até se azedou depois de passado tanto tempo.
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Ficha técnica:
Estômago II: O Poderoso Chef | 2024 | 131 min | Brasil, Itália | Direção: Marcos Jorge | Roteiro: Bernardo Rennó, Lusa Silvestre, Marcos Jorge | Elenco: João Miguel, Nicola Siri, Paulo Miklos, Guenia Lemos, Marco Zenni, Violante Placido, Giulio Beranek, Marisa Laurito, Giorgio Gobbi, Projota, Vincent Riotta.
Distribuição: Paris Filmes.
