O enredo de Estranho, Mas Verdade (Strange But True) surpreende. Uma jovem, Melissa (Margaret Qualley) acredita que está grávida de seu namorado que morreu há cinco anos, pois ela nunca teve outro homem na vida. O filme não dá pistas sobre para onde vai. Seguirá uma via religiosa? Abordará avanços científicos? Ou essa garota simplesmente é uma mentirosa?
Em seu segundo longa-metragem, o diretor Rowan Athale, mantém o mistério do livro escrito por John Searles. A obra deu origem ao roteiro de Eric Garcia, que criaria depois a série Jigsaw, cujo lançamento deve ser ainda em 2022. Mas o flash forward, que mostra o irmão caçula do noivo falecido fugindo de um perseguidor na floresta quase estraga a surpresa. Virou moda usar esse recurso, mesmo quando desnecessário ou, nesse caso, desaconselhável. Melhor esquecer esse prólogo e mergulha nos dramas bem construídos que os personagens enfrentam.
Uma morte traumática
A morte prematura do jovem Ronnie causou traumas nas pessoas próximas. Sua mãe, Charlene (Amy Ryan), nunca superou a perda e, por isso, destruiu seu casamento. O pai, Richard (Greg Kinnear), assim, saiu de casa para morar com uma mulher mais nova. E essa desestruturação do lar dificultou ainda mais a recuperação de Philip (Nick Robinson), o irmão mais novo. Mas todos desconfiam também que Melissa foi a mais afetada. Por isso, ela pode ter praticado atos desesperados, como congelar o esperma do noivo, ou mesmo estar agora num estado tal de descontrole que a faz acreditar em suas próprias mentiras.
Flashbacks intercorrentes montam os últimos momentos da vida de Ronnie, e os eventos reforçam os motivos que tornam a sua morte tão traumática. Afinal, ela acontece num momento de extrema felicidade. O que encorpa, também, a história são as subtramas dos personagens secundários, como a do casal de idosos que aluga a casa dos fundos para Melissa (que se tornarão peças-chave do mistério) e a dos pais de Philip e Ronnie. E todas essas linhas narrativas se amarram com precisão na parte final. A solução é desconcertante, pois revela uma saída inesperadamente racional e, por desgraça, muito atual.
Por fim, Melissa e todos os personagens sobreviventes seguirão suas vidas felizes, mas fundamentadas em uma dúvida. A verdade, que só nós, espectadores, conhecemos estragaria esse cenário. Esse desfecho é mais uma ousadia nessa história elaborada com inteligência.
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Ficha técnica:
Estranho, Mas Verdade | Strange But True | 2019 | 1h36 | Canadá | Direção: Rowan Athale | Roteiro: Eric Garcia | Elenco: Nick Robinson, Amy Ryan, Greg Kinnear, Brian Cox, Margaret Qualley, Connor Jessup, Blythe Danner, Janaya Stephens, Mena Massoud.
