Excluídos (The Strays) marca a estreia do ator inglês Nathaniel Martello-White na direção e roteiro de longas-metragens. Pelo que o filme indica, Marthello-White deseja seguir a trilha do cineasta americano Jordan Peele. Esse seu suspense, que estreou recentemente na Netflix, possui vários pontos semelhantes a Nós (Us, 2019), de Peele. Para começar, mostra o personagem principal (ou os personagens principais) enfrentando uma sinistra presença que pode ou não ser real. Além disso, o tema envolve crítica social em relação a questões raciais e econômicas.
Mas Peele foi muito mais profundo – e viajante. Nós adentra o fantástico de uma forma original e inesperada. Já Excluídos fica apenas na ameaça, instigando o espectador com a dúvida se as aparições são reais, imaginação, loucura ou sobrenatural. Enfim, enquanto paira esse mistério, o filme consegue manter o interesse.
Negra como Neve
Acompanhamos a protagonista Neve (Ashley Madekwe) e sua vida de alto padrão. Como indicam a peruca, os espelhos, e até o seu nome, logo percebemos que ela pretende esconder que é negra. Assim, faz sentido que ela sofra com visões com pessoas negras que olham para ela com expressão de ódio. Nesse ponto, o filme mantém o espectador apreensivo, imaginando para onde o filme caminhará.
Contudo, o que vem a seguir estraga todo esse clima de mistério. Sem apresentar nenhuma surpresa, a revelação apenas confirma o que o prólogo indicava. Aliás, esse prólogo nem deveria existir, pois entrega demais o que está por vir – talvez essa cena introdutória funcionasse melhor como um flashback depois da revelação. Então, quebrando a linearidade temporal da narrativa, o filme mostra o que de fato aconteceu durante os cinco dias em que Neve teve suas visões. Assim, descobrimos o que Neve não sabia. Mas cai no marasmo, porque já prevíamos tudo isso por causa da sequência inicial.
A conclusão
A parte final retoma um pouco do espírito Jordan Peele. Os visitantes se tornam inesperadamente violentos, o que injeta um pouco de tensão para despertar o espectador que caiu no sono durante o miolo enfadonho do filme. No entanto, esse desfecho é incoerente com o que vimos antes. Para que toda a enrolação da aproximação com a família de Neve se os excluídos queriam uma vingança? Ora, após a confirmação da identidade de Neve, eles já poderiam invadir a casa dela.
Por fim, o filme ainda busca uma surpresa no último minuto. Seria aquele toque de sarcasmo inteligente, mas não funciona porque o enredo não buscou criar uma protagonista carismática. Pelo contrário, a construiu como uma pessoa nojenta. Além disso, os excluídos também não eram coitadinhos, e sim vingadores agressivos, e os filhos do casamento atual uns bobões, que nem assumem nem renegam sua raça. Então, o final nos deixa impassivos; não ficamos com raiva de Neve, como queria Nathaniel Martello-White (o diretor que queria ser Jordan Peele).
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Ficha técnica:
Excluídos | The Strays | 2023 | 100 min | Reino Unido | Direção e roteiro: Nathaniel Martello-White | Elenco: Ashley Madekwe, Bukky Bakray, Jorden Myrie, Samuel Paul Small, Maria Almeida, Justin Salinger, Lucy Liemann, Tom Andrews.
Distribuição: Netflix.