Pesquisar
Close this search box.
Filme, o Registro Vivo de Nossa Memória
[seo_header]
[seo_footer]

Filme, o Registro Vivo de Nossa Memória | Por Solange Peirão

Avaliação:
8/10

8/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

Filme, o Registro Vivo de Nossa Memória é um dos títulos disponíveis no segundo grupo da plataforma Sesc Digital/Cinema em Casa, integrante da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Esse documentário atualíssimo de 2021, de Espanha e Canadá, criado e dirigido por Inés Toharia, é notável. Não só para quem trabalha com preservação documental, mas para o público em geral.

Falar da importância do filme, seja ele entretenimento, mais afeito ao âmbito da cultura, ou daquele caseiro do cotidiano familiar, como o do mundo empresarial muitas vezes ligado à publicidade, pode parecer desnecessário, redundante. O filme é um dos veículos mais caros  para o registro da Memória das sociedades e sua inserção no mundo natural. É, como disse um dos depoentes, como se olhássemos pelo retrovisor de um carro, para ver o que ficou para trás.

Mas o sabor desse documentário está em mostrar as ações mundo afora sobre preservação e guarda dos filmes produzidos há mais de um século, por técnicos da área (arquivistas, restauradores, e nas últimas décadas o pessoal de informática), cineastas, produtores e amantes do cinema enfim.

Cada tipologia documental tem suas especificidades de composição, o que leva ao tratamento específico de restauração. E, no caso dos filmes, é fantástico o que se conseguiu fazer com um suporte completamente deteriorado. O documentário trata dessas ações técnicas tão diversificadas e que evoluíram muito ao longo do tempo.

Dos filmes em nitrato, de alta combustão, que dominaram o cenário até a primeira metade do século passado, ao universo atual dos digitais. Uma cópia digital é, em si mesma, mais perene do que as antigas fitas em nitrato? E os formatos digitais diversos, ficam obsoletos diante do armazenamento em bases tecnológicas avançadas como os servidores? O que dizer do futuro, expresso pela possibilidade de se armazenar um filme no DNA de uma célula viva? (vide sobre isso a matéria “DNA é usado para armazenar filme”, Folha de S.Paulo, 13/07/2017). Todas essas questões são consideradas no documentário, por uma gama respeitável de especialistas.

Só que, evidentemente, os casos envolvendo concretamente os filmes é que nos envolvem pra valer. Em muitas das situações fica expresso também que o cinema mostra a História em movimento.  Por exemplo, o descarte maciço de filmes em nitrato, por parte das produtoras, com o advento do digital. E lá estão os preservacionistas, correndo nas caçambas para recupera-los e restaura-los. Com o interesse posterior de cinéfilos e do público em geral por tais filmes, exibidos nas cinematecas, as empresas, enxergando aqui um negócio, se interessam em recompra-los. Outro caso, bem divertido, é conhecer o grupo de pessoas de diferentes conhecimentos (carros, moda, natureza, etc.), que se reúnem para assistir a um filme com a finalidade de identifica-lo, e que vão gritando, durante a projeção, sobre o alvo de seu expertise. Filmes desaparecidos e que são redescobertos em lugares inusitados, longe de seu local original de produção, então nem se fala. Um caso emblemático é de um filme de importante cineasta japonês, que aparece com legendas servo-croatas, na antiga Iugoslávia.

Mas os grandes crimes contra a humanidade renderam exemplos marcantes. Era comum na Alemanha nazista, ou mesmo na era estalinista da União Soviética, os amantes do cinema trocarem as latas dos filmes proibidos pelos permitidos, o que acontecia daqueles permanecerem “perdidos” por muito tempo. Ou então, os registros dos campos de extermínio no Chile, em tempos de Pinochet, vistos agora pela geração jovem daqueles anos. O rapaz chorando ao ver as cenas, e lembrando que naquele 11 de setembro de 1973 pulava na cama porque não teria aula naquele dia, me fez chorar também, isso sim.

Os filmes do segundo grupo permanecem em cartaz na plataforma Sesc para um determinado número de visualizações. Quem se interessou, corra a ver.

Texto de autoria de Solange Peirão, historiadora e diretora da Solar Pesquisas de História.


Filme, o Registro Vivo de Nossa Memória
Filme, o Registro Vivo de Nossa Memória
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo