Fogo Cruzado (Copshop) constrói um clima claustrofóbico por se passar quase que inteiramente dentro de uma delegacia isolada. Além desse fator físico, a sensação de sufocamento vem também da insegurança porque a heroína do filme não pode confiar em ninguém.
O cenário lembra a tensão da segunda metade de Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 2015), de Quentin Tarantino, quando os personagens ficam presos em uma estalagem. Recuando um pouco mais no tempo, lembramo-nos também de Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944), de Alfred Hitchcock, que acontece dentro de um barco à deriva. Mas, dentro do mesmo gênero policial, Fogo Cruzado logo remete a Free Fire: O Tiroteio (2016), de Ben Wheatley, que contém o tiroteio mais longo do cinema.
O diretor Joe Carnahan é muito bom nos filmes de ação, como comprovam Esquadrão Classe A (The A-Team, 2010) e Stretch (2014), bem como Mate ou Morra (2021), este com Frank Grillo, um dos protagonistas de Fogo Cruzado. Desta vez, não há comédia, como havia nesses outros títulos; estamos diante de um filme policial, que investe no suspense.
Todos para a delegacia
Rapidamente, a trama conta como os enigmáticos Teddy Muretto (Frank Grillo) e Bob Viddick (Gerard Butler) acabam propositalmente trancafiados na cadeia da mesma delegacia. Lá dentro, a policial Valerie Young (Alexis Louder) logo se verá sozinha enfrentando esses dois perigosos homens, um covarde colega traidor e um matador de aluguel psicopata que invade a delegacia. Além disso, se surpreenderá com inesperadas revelações de corrupção em níveis superiores da polícia.
O filme não esconde do espectador quem são os corruptos dentro da força policial, o que aumenta o suspense porque Valerie, a única heroína de fato do filme, é a última a descobrir. Por isso, tememos porque a vida dela corre perigo. Também sabemos, e Valerie logo descobre, quem, de fato, são o manipulador Muretto e o assassino profissional Viddick. Mas, o que não sabemos é: quem trairá a confiança de Valerie? Muretto, Viddick, ou os dois?
Altas doses de ação, filmadas com competência, marcam o início e o terço final do enredo. No miolo da trama, acontecem instigantes confrontos mentais entre os três protagonistas. Essencialmente, eles se resumem a uma disputa pela alma da honesta policial. Será que um deles conseguirá convencê-la a cooperar? As atuações acima da média dos três atores que interpretam esses papéis colocam a densidade proposta pelo roteiro. Em complemento, o psicopata Anthony Lamb (Toby Huss) e o policial traidor Huber (Ryan O’Nan) surgem como os vilões indiscutíveis. São os tipos que nos fazem torcer para que se deem mal.
Apoteose
É verdade que o epílogo soa apoteótico demais. A delegacia pegando fogo, os sprinklers jorrando água, e uma troca de tiros exagerada, daquelas em que parece que ninguém acerta os seus alvos. Mas, funciona como resultado de toda a tensão acumulada durante as nervosas conversas entre os três protagonistas e as ameaças dos outros dois vilões.
Sem dúvida, um eficiente filme policial realizado por diretor e atores especialistas no gênero.
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Ficha técnica:
Fogo Cruzado | Copshop | 2021 | 107 min | EUA | Direção: Joe Carnahan. Roteiro: Kurt McLeod, Joe Carnahan. Elenco: Gerard Butler, Frank Grillo, Alexis Louder, Toby Huss, Chad L. Coleman, Ryan O’Nan, Jose Pablo Cantillo, Kaiwi Lyman, Robert Walker Branchaud, Tracey Bonner.