Ford vs Ferrari resgata a emoção dos grandes filmes sobre corridas de carro.
O filme Ford vs Ferrari é baseado na história real do desafio da Ford em sobrepujar sua concorrente Ferrari na corrida de 24 Horas de Le Mans, onde a escuderia italiana predominava. O relato se foca no engenheiro Carroll Shelby (Matt Damon) e no piloto Ken Miles (Christian Bale). Além do desafio técnico de desenvolver um carro Shelby superior à Ferrari, os dois ainda precisam derrotar os executivos de marketing, preocupados demais com a imagem da marca e que não querem o rebelde Miles no volante.
O seu roteiro possui grande apelo junto ao público dos EUA, pois a competitividade enaltecida pelo American way of life movimenta a estória. A Ford apresenta uma proposta para adquirir a empresa Ferrari, mas o seu fundador e proprietário Enzo Ferrari se ofende com os termos do contrato e ainda insulta a Henry Ford II. Logo depois, a Ferrari é comprada pela Fiat. Sentindo-se usado, o presidente da Ford decide contratar o melhor engenheiro do mercado para desenvolver o seu carro de corridas, e a escolha recai sobre o empresário da Shelby American, que era também o único piloto americano a ter vencido a corrida de Le Mans.
Para esse projeto, Carroll Shelby chama o audacioso piloto Ken Miles, com quem já trabalhara antes. Como problemas de saúde impedem o próprio Carrol de pilotar, Miles é o nome para assumir o volante e, também, para auxiliar no desenvolvimento do carro. Apesar da opinião contrária do diretor de marketing da Ford, Ken Miles pilota o Shelby GT40 nas 24 Horas de Le Mans.
Direção clássica
Sem recorrer a um estilo rebuscado, o diretor James Mangold realiza Ford vs Ferrari nos moldes clássicos de Hollywood. O diretor de Johnny & June (2005) e Logan (2017) prova seu talento em algumas opções acertadas que garantem a emoção do espectador.
Mas filmar uma corrida de carros é um grande desafio. O diretor precisa, entre outras coisas, que o espectador entenda o percurso do autódromo, quantas voltas faltam até a última, e facilitar a identificação dos carros com seus personagens, os pilotos. E James Mangold se sai bem em todos esses quesitos.
Para explicar o percurso, o truque utilizado é bem inteligente. Dias antes da corrida, Ken Miles mostra sua estratégia para a corrida no trajeto que o filho desenhou no papel. Dessa forma, o espectador conhece de antemão o percurso e poderá torcer para que o piloto consiga executar seu plano.
Os dois protagonistas, Miles e Shelby, são muito bem construídos e o espectador torce por eles. Apesar de talentosos e especialistas em suas funções, eles são mostrados como pessoas comuns. Conhecemos o problema cardíaco de Shelby e a família de Miles, com situação financeira precária. E a caracterização deles como gente comum fica clara na briga entre eles na rua. Ao invés de uma luta estilizada, é uma troca de tapas, socos e pontapés sem jeito, bem próximo do que acontece na realidade com pessoas que não sabem lutar.
Surpresa
Ford vs Ferrari evita o melodrama, mesmo diante de acontecimentos emocionantes. Miles possui seu momento de epifania, quando percebe que a maior vitória não é cruzar em primeiro na corrida, mas vencer a si próprio. Especificamente no caso dele, é conseguir controlar sua impulsividade agressiva. Miles representa, ainda, o espírito livre, que pilota porque é sua paixão, contrapondo-se ao corporativismo dos executivos da Ford, preocupados apenas com a imagem da marca.
Por fim, lembremos que ser um filme típico do cinema clássico não significa que ele não possa nos guardar surpresas. Se você, como a maioria de nós, não conhece o resultado das 24 Horas de Le Mans de 1966, você se surpreenderá com o seu desfecho.
Finalmente, até por retratar a mesma época, Ford vs Ferrari remete aos emocionantes Grand Prix (1966), de John Frankenheimer, e As 24 Horas de Le Mans (1971), com Steve McQueen. Entra fácil na lista de melhores filmes sobre corridas de carro da história.
