Gabriel e a Montanha acompanha a verdadeira história da parte final da viagem pelo mundo de Gabriel Buchmann, que se encerrou em 17 de julho de 2009.
O prólogo entrega que a jornada terminou em tragédia no Monte Mulanje, no país africano Malawi. Dois homens roçam o matagal vagarosamente. Após alguns minutos filmados sem corte, um deles encontra o corpo de Gabriel. O ritmo lento desta introdução indica o que o público encontrará durante o filme, e retrata a sensação que o protagonista buscava em sua viagem. Apesar de passarmos por vários locais durante o longa-metragem – Quênia, Tanzânia, Zâmbia e Malawi – não há pressa. Tal como Gabriel, o filme quer experimentar essas diferentes culturas, dedicando o tempo necessário para essa finalidade.
Gabriel não quer o conforto de um passeio turístico. Relaciona-se facilmente com os habitantes locais e prova um pouco de seus modos de vida. Afinal, o motivo oficial de sua jornada é a pesquisa de povos em condições de pobreza, base para sua tese de doutorado.
Antes da morte
Após o prólogo, o filme retoma a história de Gabriel no continente africano, 70 dias antes de seu cadáver ser encontrado. No final do trecho introdutório, a câmera se aproxima muito lentamente do corpo, mas mantém distância dele. Quando o enredo começa de fato, reconhecemos Gabriel porque ele está com a mesma camisa do morto que vimos de longe, uma camisa rubro-negra do time de futebol Flamengo.
Enquanto acompanhamos a trajetória de Gabriel, mesclando-se com o povo local, o filme intercala depoimentos de quem o conheceu nessa jornada, comentando após sua morte. Na primeira vez que essa interposição acontece, soa estranha, porque vem após a entrada dos caracteres de “70 dias antes”, e esse depoimento está fora desse registro temporal. Essa confusão acaba sendo resolvida com os próximos testemunhos, à medida que se tornam recorrentes.
A peregrinação solitária do protagonista é quebrada com a chegada da sua namorada Cristina, na segunda perna da viagem, em Tanzânia. Gabriel e a Montanha, então, ganha ares de romance, com algumas discussões ideológicas que surgem no relacionamento. É a brecha também para o momento mais emocionante do filme, quando ela se despede do namorado no aeroporto de Zâmbia, montada em paralelo com seu depoimento cheio de lágrimas.
Elenco
Gabriel e a Montanha apresenta interpretações inspiradas de seus atores principais. João Pedro Zappa constrói um aventureiro idealista entusiasmado e muito carismático. Caroline Abras é o contraponto mais reflexivo na relação, som suas convicções próprias que provocam o namorado. E o casal transmite muita paixão. Os atores, ou não atores (?), locais adicionam o elemento de naturalidade que adiciona legitimidade quase documental ao filme.
O diretor Fellipe Barbosa traz em seu segundo longa-metragem a vivência da viagem em busca da experiência. Diferente do turista hedonista, o protagonista de Gabriel e a Montanha quer conhecer como vivem as pessoas em outros países, nem que para isso passe por sofrimentos e riscos de perder a vida. E o filme consegue retratar tudo isso, com filmagens em locações nos próprios destinos do viajante. Barbosa reproduz, assim, muito do que Gabriel Buchmann procurou e encontrou.
Ficha técnica:
Gabriel e a Montanha (Gabriel e a Montanha, 2017) Brasil/França, 127 min. Dir: Fellipe Barbosa. Rot: Fellipe Barbosa, Kirill Mikhanovsky, Lucas Paraizo. Elenco: João Pedro Zappa, Caroline Abras, Manuela Picq, Alex Alembe.
Distribuição: Pagu Pictures.