O drama francês Golias (Goliath) lança os holofotes sobre pesticidas cancerígenos ainda usados na agricultura ao redor do mundo.
Estamos perto do prazo de renovação para o uso de uma substância chamada Tetrazina na França e outros países europeus. Por isso, os lobistas da megacorporação fictícia Phytosanis trabalham arduamente nos bastidores e nas redes sociais. Em paralelo, acompanhamos duas situações individuais de vítimas de câncer, que levam ao enfrentamento dessa renovação; um segue a via judicial e o outro a via dos protestos ativistas.
No início do filme, o disclaimer avisa: “Qualquer semelhança não é casual, nem involuntária.”. Ou seja, embora não dê nome aos bois, a trama se baseia em fatos, portanto o assunto é sério e merece debate. O roteiro tem o mérito de desvendar as estratégias de um lobista, no caso Mathias Rozen (Pierre Niney). E não deixa dúvidas do poder de sua influência. Isso fica comprovado nos seus argumentos que os políticos repetem literalmente, bem como no uso das redes sociais que divulgam fake news. Além disso, a empresa química ainda recorre a propinas e até ao uso da força.
Narrativa truncada
No entanto, a narrativa é truncada. O subtrama da ativista cujo marido é vítima do câncer demora a engrenar; só na parte final do filme entendemos o que suas cenas têm a ver com o enredo principal. Além disso, a montagem dessa história está fora da ordem cronológica, com idas e vindas, flashbacks, que atrapalham ainda mais sua compreensão. E, justamente essa protagonista, que não acompanhamos devidamente, conduz o clímax dramático, num discurso dentro do tribunal incapaz de emocionar o espectador. As outras linhas narrativas, a do advogado Patrick Fameau (Gilles Lellouche) e do lobista Mathias seguem a linha do tempo e funcionam melhor.
Mas, o filme é mesmo mal dirigido. Primeiro, tem o problema da narrativa truncada, que comentamos acima. Além disso, tem a fotografia feia, mal iluminada, o cacoete da câmera inquieta o tempo todo, até figurantes sorrindo numa reunião séria de ativistas. O diretor é Frédéric Tellier, que alterna trabalhos para a TV e para o cinema. Enfim, este é o seu terceiro longa. Antes, ele fez o policial L’affaire SK1 (2014), e o drama Através do Fogo (Sauver ou périr, 2018), que também conta com Pierre Niney no elenco.
O tema de Golias é de alta prioridade. Pena que o filme não esteja à altura. Acaba na mesma vala que Uma Voz Contra o Poder (Percy, 2020), também conhecido como “Percy Vs Goliath”, e que trata da luta contra grandes corporações agrícolas. Mas essas incursões só deixam saudades de Silkwood, Retrato de uma Coragem (1983) e outros ótimos filmes-denúncia.
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Ficha técnica:
Golias | Goliath | 2022 | 2h02 | França, Bélgica | Direção: Frédéric Tellier | Roteiro: Frédéric Tellier, Simon Moutairou, Gaëlle Bellan | Elenco: Gilles Lellouche, Pierre Niney, Emmanuelle Bercot, Laurent Stocker, Yannick Renier, Chloé Stefani, Marie Gillain, Jacques Perrin.
Distribuição: Bonfilm.
Obs: o filme está na seleção do Festival Varilux de Cinema Francês 2022.