He Went That Way se inspira no livro “Luke Karamazov”, de Conrad Hilberry. Concentra-se no episódio sobre um adestrador de animais que sobreviveu a um dos assassinos em série retratados na obra. Marca a estreia de Jeffrey Darling na direção de longas, após dirigir alguns videoclipes e assumir a função de diretor de fotografia em alguns filmes. O que explica o uso de cores fortes em várias cenas, mas, por outro lado, de confusos flashbacks no meio da narrativa sobre crimes cometidos anteriormente pelo serial killer.
O formato de road movie com um caronista perigoso chama a atenção, pois essa premissa já rendeu ótimos suspenses como A Morte Pede Carona (The Hitcher, 1986), de Robert Harmon. No filme desta crítica, Jim (Zachary Quinto) viaja com o seu chimpanzé Sparky e resolve dar uma carona para o jovem rapaz Bobby (Jacob Elordi), sem saber que ele é um assassino que já fez várias vítimas. Mais mortes acontecem durante a jornada, mas Jim consegue sobreviver driblando os impulsos psicóticos de Bobby com muita conversa, e uma tentativa de aproximação que se torna uma sincera empatia.
Apesar de ser baseado em um livro, o relato é ficcional, como alerta a cartela na abertura do filme. E tudo parece mesmo inventado, inclusive porque apresenta um depoimento nos créditos finais sem indicar quem está falando (deduzimos que é o verdadeiro adestrador de animais, mas essa informação devia estar na tela). Aparentemente, esse homem é citado no romance de Conrad Hilberry, e o roteiro foi criado livremente a partir de sua experiência da carona ao serial killer.
Personagens inconsistentes
Mas, essa criação resultou em dois protagonistas inconsistentes. Em nenhum momento, o assassino interpretado pelo fraco ator Jacob Elordi soa amedrontador. Nem mesmo quando comete seus crimes, munido de uma pequena pistola. Na maior parte das cenas, o diretor Jeffrey Darling tenta surpreender com uma execução rápida, o que pode funcionar uma vez, mas não repetidamente. Talvez pela inexpressividade, ou o contrário, de Elordi, a câmera evita mostrar o seu rosto nesses atos, recurso que renderia calafrios nas mãos de um ator mais talentoso.
O personagem de Zachary Quinto, igualmente, parece não saber o que quer da vida. Precisa de dinheiro, e sua viagem é um último recurso desesperado para resolver esse problema. Na viagem, dá uma de bom samaritano e tenta afastar Bobby do caminho do crime – o que soa mais um agrado ao verdadeiro adestrador (ou invenção dele) do que uma atitude crível. Mesmo engolindo isso como liberdade criativa, fica difícil entender por que ele pega a arma do assassino (o que poderia evitar novas mortes), mas a devolve.
Tudo soa falso
A falta de credibilidade nesse roteiro fica ainda mais forte com o uso de cenários claramente filmados em estúdio para parecer os anos 1960. E, mais ainda, pela criação do chimpanzé, provavelmente misturando um ator com computação gráfica. Os créditos indicam que quem interpreta Sparky é Phoenix Notary, que fez um pequeno papel como uma criança símia em Planeta dos Macacos: A Guerra (2017). Mas, a tentativa de repetir o que ela fez dá totalmente errado. Primeiro, porque na franquia, os chimpanzés são criaturas mais evoluídas e com postura mais ereta do que os chimpanzés comuns. Então, é essa impressão que fica em He Went That Way – Sparky parece uma criança com uma fantasia e uma enorme cabeça desproporcional de chimpanzé. Entra na lista das piores criações desse tipo já feitas no cinema.
Por fim, cabe a Sparky encerrar o filme, numa conclusão que busca surpreender com uma guinada no fantástico. Não tem graça – aliás, o filme nunca se define se é um drama, um suspense ou uma comédia policial. E, nesse encerramento, se torna uma piada ridícula que só faz rir de si mesmo.
___________________________________________
Ficha técnica:
He Went That Way | 2023 | 95 min. | EUA | Direção: Jeffrey Darling | Roteiro: Evan M. Wiener | Elenco: Zachary Quinto, Jacob Elordi, Patrick J. Adams, Troy Evans, Alexandra Doke, Erin Moore, John Lee Ames, Nicolette Doke, Phoenix Notary, Ananyaa Shah.