O personagem dos quadrinhos Hellboy já foi adaptado para o cinema em três filmes. Os respeitados Hellboy (2004) e Hellboy II: O Exército Dourado (2008) foram dirigidos por Guillermo Del Toro e estrelados por Ron Perlman. Em 2019, o Hellboy de Neil Marshall, com David Harbour e Milla Jojovich, não conseguiu emplacar uma sequência. Em termos econômicos, os dois primeiros deram um bom lucro, mas o mais recente praticamente só equilibrou as contas (fonte: https://www.boxofficemojo.com/). Chega agora aos cinemas, em 5 de setembro, a nova adaptação, que aposta na participação do criador da HQ, Mike Mignola, como co-roteirista, como garantia de fidelidade ao material original.
Quem vive o personagem Hellboy, pela primeira vez, é Jack Kesy, de Dark Web: Cicada 3301(2021) e O Assassino (2023). A história se passa em 1959. Hellboy e a agente Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph) escoltam uma carga perigosa num trem. Ao passarem por uma região habitada por bruxas, algo desperta a aranha gigante que estava dentro da caixa que levavam. O vagão descarrilha, e esses dois protagonistas investigam os poderes ocultos daquele lugar. Assim, encontram Tom (Jefferson White), que no passado esteve perto de se tornar um bruxo, e as duas bruxas que disputaram a sua alma, Cora (Hannah Margetson) e Effie (Leah McNamara).
O enredo se divide em duas tramas paralelas. Numa delas, Hellboy e Tom enfrentam o maior vilão do filme, o Homem Torto (Martin Bassindale), que coleta almas para o inferno em troca de moedas. Enquanto isso, Bobbie e o reverendo Watts (Joseph Marcell) enfrentam criaturas sobrenaturais na igreja dele.
É magia, não pancadaria
Apesar de o diretor Brian Taylor ter iniciado na função com dois filmes de ação estrelados por Jason Statham – Adrenalina (2006) e sua continuação de 2009 – há menos combates físicos em Hellboy e o Homem Torto do que nos demais longas com o personagem. Afinal, é o terror que predomina aqui. Nesse quesito, Taylor capricha nos jump scares, no gore, nas vítimas possuídas levitando, no nojo (a receita da bola enfeitiçada). E, também, em ideias desconcertantes, como a pele da bruxa que fica vazia enquanto ela assume outra forma. A mais bela imagem, nesse quesito, é aquela da bruxa Effie chegando num cavalo numa estrada com altas árvores nas laterais e muita névoa. Quem viu O Gato Preto (Yabu no naka no kuroneko, 1968), de Kaneto Shindo, certamento notará a semelhança. O uso intermitente de fade outs abruptos e acelerados é outro recurso que se destaca no filme.
Posto isso, as lutas do gigantesco Hellboy, que protagonizaram os seus filmes anteriores, dão lugar a enfrentamentos sobrenaturais. Constantemente, os personagens estão em lugares oníricos, dentro de um universo fantástico sem conexão com a realidade. Aqui, o diferencial para vencer não é a força, mas a fé para derrotar o mal sobrenatural.
Esse ambiente, onde o herói (ou anti-herói) flerta com as forças do além, não é novo para Brian Taylor, que dirigiu Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (2011). Uma mistura instigante, que sai do habitual, mas que em Hellboy e o Homem Torto resulta em cenas demasiadamente viajantes.
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Ficha técnica:
Hellboy e o Homem Torto | Hellboy: The Crooked Man | 2024 | 99 min. | EUA, Reino Unido, Alemanha | Direção: Brian Taylor | Roteiro: Christopher Golden, Mike Mignola, Brian Taylor | Elenco: Jack Kesy, Jefferson White, Adeline Rudolph, Joseph Marcell, Leah McNamara, Hannah Margetson, Martin Bassindale.
Distribuição: Imagem Filmes.