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Holy Spider (filme)
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Holy Spider | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
4/10

4/10

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Crítica | Ficha técnica

Em 1975, Paul Vecchiali realizou Change Pas de Main, um filme de sexo explícito com Hélène Surgère e Noel Simsolo como participantes criativos. As cenas explícitas faziam todo sentido, não é possível pensar no filme sem elas, pois é um filme que trata de sexo e desejo como instrumentos de poder.  

Em 2022, Ali Abbasi, do horrível e superestimado Border (2018), realiza Holy Spider, igualmente horrível e superestimado, e nos dez primeiros minutos já inclui uma cena explícita de sexo oral. Pode-se pensar que faz sentido, já que na trama, baseado em eventos reais entre 2000 e 2001 na cidade de Mashhad, há uma investigação sobre crimes sexuais. Mas o centro do filme é a sociedade iraniana, vista de modo extremamente crítico (por isso o filme não pode ser feito no Irã). E não há nada que justifique uma cena explícita de sexo a não ser o desejo de soar moderno e de fazer coisas que normalmente não se faria no cinema iraniano.

Nada errado com isso, se a escolha não revelasse um pendor maior para a perfumaria do choque do que para o realismo das relações carnais. Aliás, Hitchcock se saiu muito bem misturando humor, sexo e crime em Frenesi (1972). Abbasi o que faz? Uma cena em que o assassino transa com a esposa enquanto observa o pé de uma de suas vítimas ficar de fora do tapete no qual enrolou o cadáver. Pobre. Para piorar, mal filmado e montado.

O cinema autoral de Ali Abbasi

Vi Holy Spider sem lembrar que Border era dele. É quando o chamado autorismo entra pela porta dos fundos, como escreveu Tag Gallagher no antológico texto “Narrativa Contra Mundo”, que o leitor pode encontrar traduzido com alguma facilidade na internet.

O diretor trabalha com uma estética suja, câmera seguindo personagens de perto, tremedeira calculada, focar e desfocar estratégico, como manda a cartilha do cinema contemporâneo. Um serial killer estrangula prostitutas e diz estar fazendo uma limpeza nas ruas, que devem ficar livres do pecado.

O assassino, de codinome Aranha, é logo conhecido pelo espectador, embora o pequeno atraso, de uns três ou quatro planos, revele uma insegurança em mostrar seu rosto. Quando mostra, a estética suja implanta a dúvida, que será desfeita poucos minutos depois numa cena familiar.

É o caso de questionar a pertinência desse jogo de suspense e surpresa, ambos com curtíssima duração, enquanto relações se desenvolvem entre dois jornalistas, um homem e uma mulher, e entre a jornalista, heroína do filme, e o policial nojento que investiga o caso oficiosamente.

Vemos também que o assassino é geralmente um bom pai. Adora os filhos e trata bem a esposa, exceto por um ou outro momento de destempero que nem ele mesmo entende. Sua questão maior é a prostituição. Ele se acha signatário de uma missão. Mas seu problema é mais sério, de sociopatia mal disfarçada. A ideia interessante de mostrar que assassino e policial, como aliás quase todos os outros homens do filme, são vilões, porque a masculinidade é a grande vilã no Irã (vide a maneira vilanesca como o filho do assassino é retratado, como um contágio da masculinidade tóxica), perde força com a direção terrível de Abbasi.

Mal filmado e mal montado

O filme é simplista demais, gordofóbico de um modo patético, enfeia as prostitutas com camadas de maquiagem malfeita, mostra os assassinatos com realismo sádico e estraga ainda mais as cenas, já enquadradas de modo a repelir qualquer beleza, com uma montagem equivocada.

Não basta ser bem filmado e bem montado para ser bom, mas basta ser mal filmado e mal montado para ser ruim. E Holy Spider ainda tem esses outros problemas. Como diria Inácio Araujo: “não dá pé”.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Holy Spider | 2022 | 116 min | Dinamarca, Alemanha, Suécia, França | Direção: Ali Abbasi | Roteiro: Ali Abbasi, Afshin Kamran Bahrami | Elenco: Mehdi Bajestani, Zar Amir-Ebrahimi, Arash Ashtiani, Forouzan Jamshidnejad, Sina Parvaneh, Nima Akbarpour.

Distribuição: O2 Play / MUBI.

Trailer:
Holy Spider

Onde assistir:
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