O diretor Robert Rodriguez segue aquela estratégia de fazer filmes para ganhar dinheiro (a franquia Pequenos Espiões) e, assim, poder bancar seus projetos mais pessoais (Um Drink no Inferno, Sin City, Grindhouse). Este Hypnotic – Ameaça Invisível está mais para o primeiro grupo. À primeira vista, sua trama parece ousada, mas logo se transforma num daqueles pastiches da Netflix, ou seja, uma indigesta combinação de ideias que deram certo em outras produções.
Assim, o conceito de realidade induzida na mente, bem como alguns efeitos visuais (a paisagem à frente se dobrando na tela), vem direto de A Origem, de Christopher Nolan. Já o uso de um poder hipnótico para executar essa indução lembra A Cura, de Kiyoshi Kurosawa – e que, aliás, serviu de base para a primeira temporada de Jessica Jones. Além disso, a ideia de sequestrar uma criança ou uma jovem para fazer proveito de seus poderes especiais parece vir tanto de A Fúria, de Brian De Palma, quando de Chamas de Vingança, de Mark L. Lester.
Mas juntar todos esses pedaços resulta num filme Frankenstein, que não funciona essencialmente como um filme (ou como um ser humano de fato, no caso do monstro). Na verdade, isso já deveria ser fato consumado, basta checar a quantidade de fracassos entre as produções da Netflix que seguem essa fórmula.
A (talvez) trama
Enfim, no filme desta crítica, o detetive Danny Rourke (Ben Affleck) encontra uma pista que pode levar à sua filha desaparecida. Mas, ele enfrenta um poderoso oponente, Lev Dellrayne (William Fichtner), que depois desaparece misteriosamente. Então, para enfrentá-lo, Danny une-se a Diana Cruz (Alice Braga), que possui poderes hipnóticos como o de Dellrayne. Essa parece ser a sinopse básica de Hypnotic – Ameaça Invisível. No entanto, como o filme trabalha com essa hipótese de indução da realidade, o espectador nunca pode ter a certeza de que o que está na tela realmente acontece na história.
Esse jogo de ludibriar o público é perigoso. Alfred Hitchcock, por exemplo, condenava seu próprio Pavor nos Bastidores por mostrar um flashback que não era verdade. Imagine, então, o que ele diria de Hypnotic, no qual várias cenas podem simplesmente ser uma situação induzida na mente do personagem. E, de fato, Hitchcock estava certo. Esse recurso trai o espectador e, com isso, ele passa a rejeitar o filme. O público começa a se questionar se vale a pena continuar assistindo o que está na tela – afinal, tudo isso pode não estar acontecendo.
Para piorar, o filme acredita na genialidade de sua premissa, embora, como dissemos, resulta de um pastiche de ideias de outras obras. Então, pensando no espectador, o roteiro está sempre explicando a trama através dos seus personagens. Chega a ser cansativo, e até engraçado que, cada pessoa que Danny conhece se apresenta explicando sobre esse projeto Hypnotic.
O autor como salvação?
Pouca coisa se salva em Hypnotic. Talvez apenas o fato de Robert Rodriguez ter algum talento na direção, como notamos quando ele usa a montagem para fazer alguma conexão imagética do uma cena com a próxima. Por exemplo, as colunas do teto que giram a câmera sem percebermos, ou a grade do visor da porta do banheiro onde está Diana, em ambos continuando a enganar o espectador. Ou seja, intrinsecamente ligados ao tema. Contudo, por mais que busquemos algum traço autoral para podermos elogiar Robert Rodriguez, não dá para salvar esse filme do total fracasso artístico.
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Ficha técnica:
Hypnotic – Ameaça Invisível | Hypnotic | 2023 | 93 min | EUA | Diretor: Robert Rodriguez | Roteiro: Robert Rodriguez, Max Borenstein | Elenco: Ben Affleck, Alice Braga, William Fichtner, JD Pardo, Dayo Okeniyi, Jeff Fahey.
Distribuição: Diamond Films.
Trailer aqui.