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Ilegítimo (2016)
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Ilegítimo

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Filme romeno incomoda ao abordar o incesto e o aborto

Presente na 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme romeno Ilegítimo é um drama corajoso que aborda questões morais de forma séria e profunda.

Durante uma refeição familiar, o pai, viúvo, é indagado por um de seus quatro filhos, todos presentes à mesa. Ele quer saber se o pai realmente contribuiu no passado para a ditadura. Segundo mostram os documentos que sua esposa encontrou ao trabalhar em uma dissertação, ele delatou médicos que praticavam o aborto. O patriarca Victor (Adrian Titieni) também é médico. E tenta se justificar alegando que não concorda com essa prática. Para ele, o aborto equivale a tirar a vida de um ser humano, mesmo que hoje o procedimento seja legal na Romênia. Então, as discussões gradativamente se tornam mais agressivas, chegando até ao embate físico. Victor resolve, então, ir embora de casa.

Incesto entre os gêmeos

À noite, os filhos gêmeos, Romeo (Robi Urs) e Sasha (Alina Grigore) praticam sexo incestuoso. O rapaz inicia o ato, e a parceira aceita a contragosto, pedindo para o irmão cessar esse hábito. Logo, descobrem que estão grávidos, o que traz a discussão sobre o aborto para a realidade da família.

Adicionalmente, o ousado tema do filme Ilegítimo recebe paralelo no estilo de filmagem que o diretor Adrian Sitaru emprega aqui. Por exemplo, na cena da discussão à mesa, a câmera está inquieta. Vários enquadramentos se alternam, em ritmo irregular. E até um zoom é utilizado de forma brusca. Em suma, o objetivo é caracterizar a tensão do momento, transformando a relação da família num caos.

Os movimentos de câmera, posteriormente, se tornarão mais apaziguados. Mas, durante todo o filme se mostram imprevisíveis, assim como o que acontece na narrativa. Até o final, o longa trata o incesto como ato inadmissível para a sociedade. E esta é a posição do filme, e não a exaltação do amor entre os irmãos.

Desafio ao espectador

Há um jogo onde se desafia o espectador a descobrir quem são os personagens. De fato, não existe nenhum recurso gratuito para tal, além da atenta escrutinação. Na sequência inicial, sete pessoas se sentam para a refeição. Um deles, facilmente identificamos como o pai. Porém, desvendar quem são os filhos é árdua tarefa. Na observação, concluímos errada porém corretamente se analisada sob o aspecto amoroso, que Romeo e Sasha são namorados e não irmãos. Afinal, é o que enxerga quem está de fora, preso às peças que formam o jogo esperado do socialmente aceito. Mais tarde, quando os dois fazem sexo, nos perguntamos novamente se eles são irmãos, uma recusa a ver o que contraria nossas regras morais.

Além disso, na última cena do filme Ilegítimo, o diretor Adrian Sitaru inclui na família uma pessoa que fica sentada à direita da tela. Sem participar do que acontece na situação, que retoma a mesma mesa do começo do filme, nos indagamos quem seria ela. Afinal, uma determinada importância lhe é reservada, que justifica sua incorporação no enquadramento da foto familiar. É como se representasse a lei, que existe, mas que não precisa ser usada. Ou seja, o fato de a lei permitir o aborto não afasta as questões morais sobre o assunto, nem obriga a ser usada em qualquer contexto. O incesto, mesmo que regulado legislativamente, não afasta suas contestações morais, e mesmo as regras sociais não obrigam que sejam obedecidas cegamente.

Enfim, o filme Ilegítimo insere um exercício de questionamento moral que provoca e incomoda o público.


 

Ficha técnica

Ilegítimo (Ilegitim, 2016) Romênia/Polônia/França. 89 min. Dir: Adrian Sitaru. Com Adrian Titieni, Alina Grigore, Robi Urs, Bogdan Albulesco, Cristina Olteanu, Miruna Dumitrescu, Liviu Vizitiu, Mihaela Perianu, Adrian Iacov, Gabriela Ursu.

Assista ao trailer do filme Ilegítimo

Confira outro filme que aborda o incesto: Um Amor Impossível

Ilegítimo (2016)
Ilegítimo (2016)
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