O diretor Oliver Stone lançou as dúvidas sobre os resultados da investigação sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy em seu filme ficcional JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (JFK, 1991). Agora, ele retoma o assunto no documentário JFK Revisitado: Através do Espelho. O que o motiva é o desarquivamento de documentos que permaneceriam em sigilo até 2029.
A primeira parte do documentário traz o próprio Stone narrando e entrevistando personalidades relacionadas ao crime ocorrido em 22 de novembro de 1963. As apresentações exaustivas de evidências vão desde testemunhas que trabalhavam no mesmo prédio de Lee Harvey Oswald, que foi preso como culpado pelo assassinato e logo assassinado também, até especialistas médicos que atestam que os colegas foram coagidos a assinarem relatórios mentirosos. Chega até a mostrar o passo a passo da análise balística para encontrar inconsistências, e comparações do rifle usado com fotos antigas de Oswald com seu rifle pessoal.
Enfim, salvo um escrutínio detalhado de cada argumento, Oliver Stone consegue provar seu ponto. Mas, o custo para o espectador é alto, pois essa primeira hora é muito extenuante. E, no final, ficamos com a sensação de que tudo isso já estava evidente na filmagem amadora do fabricante de roupas Abraham Zapruder. Ou seja, o tiro que acertou a cabeça de John F. Kennedy veio pela frente, portanto, havia outro atirador além de Oswald.
Conspiração
Assim, após comprovar suas suspeitas de que o assassinato resultou de uma conspiração, Stone ocupa a segunda metade do seu filme com conjecturas a respeito dos motivos. Agora, Donald Sutherland faz a narração (aliás, Whoopi Goldberg alternou essa função com Stone na primeira parte). Um dos pontos principais desse segmento é constatar que Kennedy se opunha à CIA em muitas questões. Em especial, quanto à Guerra do Vietnã e as relações com Cuba. Por fim, antes de encerrar com um belo discurso em defesa dos direitos civis em 11 de junho de 1963, o documentário traz dispensáveis trechos para mostrar o quanto JFK é reconhecido mundialmente. Definitivamente, ser sucinto não era uma preocupação de Stone.
Assim, Oliver Stone coloca para fora, através do meio que ele domina, seu protesto por uma nova investigação sobre o assassinato de 55 anos atrás. Age corretamente, como um artista expressando-se através de sua arte. Mas, não podemos negar que o único momento do filme que é verdadeiramente eletrizante como experiência cinematográfica é o seu prólogo, que reconstitui o assassinato através de edição de notícias e registros diversos. Na comoção espontânea dessa tragédia se evidencia o quanto Kennedy representava como esperança de tempos melhores.
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Ficha técnica:
JFK Revisitado: Através do Espelho | JFK Revisited: Through the Looking Glass | 2021 | EUA | 128 min | Direção: Oliver Stone | Roteiro: James DiEugenio.
Esse documentário está na seleção do 27º É Tudo Verdade, que acontece entre 31 de março e 10 de abril de 2022.