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Kong: A Ilha da Caveira (filme)
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Kong: A Ilha da Caveira

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Mais uma vez, o gorila gigante Kong chega aos cinemas. E “Kong: A Ilha da Caveira” surpreende. O diretor Jordan Vogt-Roberts, experiente em produções para televisão, recheou este seu segunda longa metragem para a tela grande com visual caprichado e recursos narrativos inteligentes, causando um impacto que supera as expectativas.

A nova aventura

Na estória, o cientista Bill Randa (John Goodman) consegue liberação para uma expedição exploratória à misteriosa Ilha da Caveira, onde vários aviões e barcos desapareceram. Estamos em 1973, quando os Estados Unidos declaram o fim da Guerra do Vietnã. Por isso, o Coronel Packard (Samuel L. Jackson) se sente aliviado por comandar a tropa que acompanhará o grupo de Randa. Afinal, ele adora estar no campo de combate e o fim da guerra significava para ele um futuro aborrecido. Juntam-se a eles o habilidoso James Conrad (Tom Hiddleston) e a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson), entre outros.

Na ilha, encontram seres gigantescos e perigosos, com destaque para Kong, um gorila com tamanho de um prédio. A tribo local, que abriga um ex-piloto da Segunda Guerra Mundial, o americano Hank Marlow (John C. Reilly), considera Kong um deus. Hank ensina aos novos visitantes que Kong não é uma ameaça. De fato, ele ataca como autodefesa, como faz quando os americanos chegam com seus helicópteros bombardeando a ilha.

Na verdade, as criaturas perigosas da ilha são os terríveis skull crawlers (“lagartos da caveira”), gigantescos répteis que vivem abaixo do solo. Aliás, o povo Iwi endeusa Kong justamente porque ele é o único capaz de derrotar essas criaturas. Porém, o Coronel Packard quer se vingar de Kong pela morte dos soldados que ele matou na chegada à ilha.

Destaques

Logo no prólogo do filme encontramos a primeira indicação que estamos diante de uma obra realizada com esmero. É 1944, em uma ilha no Sul do Pacífico. A primeira cena posiciona o sol no centro do quadro e um homem caindo em direção à câmera. A fotografia acompanha o laranja e amarelo do sol, e o formato scope cresce na tela. Dois aviões de guerra caem ao solo, e os pilotos se salvam saltando de paraquedas. São inimigos, um americano e outro japonês. A areia da vasta praia dá a sensação de um deserto, e os dois se encaram para um duelo como num faroeste. As pistolas não acertam seus alvos, e o piloto oriental saca um sabre e persegue o oponente através da selva, até chegarem a um precipício.

O combate é duro, porém, o japonês domina e está prestes a enfiar seu sabre na garganta do inimigo quando uma enorme mão surge ao lado deles. Então, o reflexo na lâmina da espada permite ver uma imagem borrada de um símio gigantesco. Não vemos ainda o gorila integralmente. Por fim, a última cena é seu reflexo na íris do soldado, que se funde com o sol, e abre os créditos iniciais.

Certamente, não é a abertura padrão de um filme de ação qualquer. Além disso, os créditos também surgem integrados a uma apresentação rebuscada. É uma colagem de recortes de noticiários que revelam a passagem do tempo através dos acontecimentos mais relevantes, até chegar ao ano de 1973.

Kong no apocalipse

Ademais, sente-se o estilo de Francis Ford Coppola quando a estória chega ao Vietnã. A Saigon reconstruída em estúdio remete ao apuro visual de Coppola, com cores saturadas, um pouco de exagero na composição que aproxima a cena do artificialismo. A aproximação não é gratuita, porque nos localizamos onde o épico “Apocalypse Now” (1979) se passa. Por isso, toda a sequência com o início do recrutamento da equipe e com os soldados se preparando para a expedição é recheada de rock dos anos 70. De fato, o delírio do Tenente Kilgore, personagem de Robert Duvall no filme de Coppola, apreciando o cheiro da Napalm, se assemelha ao do Coronel Packard, que aqui comanda seus pilotos com mensagens motivacionais enquanto os helicópteros bombardeiam a ilha.

Então, após uma sobreposição jocosa de uma libélula com os helicópteros, ouvimos “Paranoid”. O hino antibelicista do Black Sabbath toca intensamente enquanto começa o bombardeio, que destrói a vegetação e os animais locais. Logo, Kong surge tão alto quanto um arranha-céu para atacar o que está destruindo seu lar. Kong é o Coronel Kurtz (Marlon Brando) de “Apocalypse Now”, o deus nessa ilha escondida. Ao final da batalha, com várias perdas em seu pelotão, Packard encara Kong olho no olho. O desejo de vingança está plantado, sem necessidade de qualquer expressão verbal.

Sem dúvida, o diretor Jordan Vogt-Roberts lida habilmente com essas mensagens imagéticas. No duelo final, ele enquadra Kong com o sol ao fundo dando-lhe uma auréola. Dessa forma, não deixa dúvidas de quem o filme considera o mocinho e o bandido na trama.

Personagens

Além desse interessante confronto entre o bem e o mal, a estória de “Kong: A Ilha da Caveira” acerta também ao evitar clichês para os papéis do cientista e da mocinha. John Goodman não representa o obstinado que deseja explorar as espécies únicas da ilha, que vimos em tantos filmes munido de falas para lá de enfadonhas. Pelo contrário, aqui ele é sensato e sabe até onde deve ir sua curiosidade científica. Por isso, chega a confrontar Packard.

E, Brie Larson (de “O Quarto de Jack”) não é explorada como a mulher sensual do grupo. Assim, Kong não tenta despi-la como fez na versão de “King Kong” de 1976 com Jessica Lange. Aliás, o filme nem aborda esse aspecto sexual. Na verdade, a característica feminina sublinhada é sua compaixão ao ajudar um animal ferido. Aliás, uma cena crucial para explicar o comportamento de Kong em relação ao grupo não militar de exploradores.

Porém, um aspecto merecia uma melhor elaboação. A figura do skull crawler parece exageradamente demoníaca, como uma caveira de animal revivida. Nesse ponto, um tradicional dinossauro poderia ser uma escolha melhor, que se encaixaria mais adequadamente com o reino animal da ilha.

Enfim, em meio a tantos filmes de ação com ritmo propositalmente acelerado, para que o espectador não tenha tempo de pensar, “Kong: A Ilha da Caveira” é uma rara exceção. Além das emocionantes e eficientes cenas de combates, o filme convida o espectador a tirar suas conclusões a partir da linguagem visual, narrativa própria do cinema.


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