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Apocalypse Now (filme)
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Apocalypse Now

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Apocalypse Now nos conduz a um mergulho crescentemente assombroso nos horrores da guerra.

Ficamos com a impressão que o barco de Chief Phillips (Albert Hall) navega em sentido ao fundo pelo perigoso rio no Vietnã durante a guerra, a fim de conduzir o Capitão Willard (Martin Sheen) em sua missão de eliminar o Coronel Kurtz (Marlon Brando). Conforme o grupo avança, Willard testemunha comportamentos insanos daqueles envolvidos na guerra. E atitudes absurdas que provam o quanto aquilo tudo não tem sentido. Por fim, tudo desemboca na pequena fortaleza de Kurtz, que representa o ápice da loucura, um amálgama justificado de tudo o que foi experienciado por Willard durante a sua jornada.

“The End”, no início

Aliás, o capitão não inicia sua aventura partindo do zero, em relação ao seu estado mental. E isso é revelado no início do filme. De fato, Willard se encontra em um quarto de hotel em Saigon, embriagado e drogado para suportar a carência do combate na selva, onde gostaria de estar. A sequência é marcada pela música “The End”, do The Doors, perfeita até na letra para ilustrar o tema do filme. O som dos helicópteros usados em combate preenche a cena, e se ajusta genialmente ao movimento do ventilador do teto. Esse trecho mexe com os sentidos do espectador, que compreende que Willard está presente naquele hotel somente fisicamente. Na verdade, sua mente está no campo de batalha. Sua narração em primeira pessoa confirma essa sensação.

Então, quando Willard recebe a designação de sua próxima missão, ele imediatamente se sente satisfeito em aceitá-la. Por um lado, temos a presença do ator Harrison Ford, e o comandante explicando que o Coronel Kurtz optou por seguir o seu lado negro. Inevitavelmente, esses pontos remetem ao blockbuster Guerra Nas Estrelas (Star Wars, 1977), filme de George Lucas, pupilo de Coppola.

“Eu adoro o cheiro de Napalm de manhã”

Logo, na primeira etapa da jornada, Willard encara a primeira encarnação da loucura provocada pela guerra: o alucinado tenente Bill Killgore (Robert Duvall). À frente da “cavalaria”, apelido da força aérea de combate em Vietnã, Killgore lida com a situação como se fosse uma brincadeira. Nesse sentido, o fator decisivo para ele escolher o caminho pelo qual conduzirá o grupo de Willard são as ondas do local, onde ele pretende surfar com os companheiros e com o campeão da modalidade que faz parte da equipe de Willard.

Nesse trecho, a partida até o local é um dos momentos mais marcantes de Apocalypse Now: o arrepiante vôo dos helicópteros acompanhado da ópera “Cavalgada das Valquírias”, de Richard Wagner. E a música, surpreendentemente, faz parte da ação, pois Killgore a coloca para tocar no amplificador em seu helicóptero. Enfim, é do tenente a célebre frase “Eu adoro o cheiro de Napalm de manhã”, logo depois de lançar chamas sobre a praia. Killgore está num estágio mais avançado de loucura em relação a Willard, mas ele se alinha com o capitão quando afirma com pesar: “Um dia essa guerra vai acabar…” Definitivamente, toda essa sequência é deslumbrante porque fica nítida a filmagem somente com efeitos especiais, em plano aberto visto de cima, quando não havia ainda efeitos visuais feitos em computador.

Nervos à flor da pele

Após conhecer a loucura de Killgore, Willard estuda o material sobre seu alvo, o Coronel Kurtz. E se questiona sobre os motivos de os militares de alto escalão decidirem que ele deve morrer. Afinal, não pode ser apenas por seus atos criminosos ou por sua loucura. Logo, as próximas paradas de seu percurso lhe dão indícios de algum motivo político por trás dessa decisão.

Em seguida, o barco chega a um local que parece um parque de diversão, onde acontece um show de modelos da Playboy para os soldados. Através de sua narração, Willard se preocupa que, enquanto os americanos se divertem, os vietcongs se concentram na batalha.

Além disso, a guerra também afeta seus companheiros de barco. Por isso, matam desnecessariamente uma família de pescadores durante uma inspeção de rotina. Os nervos estão à flor da pele porque o trajeto não é pacífico, e em vários trechos o grupo é atacado.

O questionamento sobre as motivações políticas de sua missão ecoa na discussão que Willard presencia na mesa de jantar de uma improvável família francesa que se recusa a sair de sua rica propriedade no Vietnã. É evidente para o líder da família que os Estados Unidos possuem uma potência militar esmagadoramente superior à do pequeno Vietnã, e, se não vencem logo essa guerra é porque não têm essa intenção.

Coronel Kurtz

Depois de vivenciar toda essa jornada, Willard chega ao reduto de Kurtz. E compreende melhor os motivos de ele ter se rebelado e construído seu próprio pequeno império, com soldados radicalmente obedientes que o veneram como um deus. Mesmo assim, o cenário é chocante. Os seguidores de Kurtz são numerosos – centenas, talvez milhares. E corpos de detratores estão por todo o lado, pendurados em árvores, ou suas cabeças decapitadas espalhadas pelo chão. Kurtz sabe que Willard está lá para matá-lo, mas não o impede, porque ele não conseguiu atingir o horror moral. Praticou atrocidades acreditando que seria forte o suficiente para não se julgar, mas não conseguiu. Pede, então, que Willard o mate, mas não o julgue.

O assassinato de Kurtz, em paralelo à morte de uma vaca pelos seus soldados, é uma das cenas mais cruéis do cinema. Ainda mais considerando que o animal realmente foi sacrificado. Sagrada para alguns povos, a vaca é dilacerada, enquanto Kurtz, endeusado pelos seus seguidores, é golpeado por Willard. De fato, a eliminação de Kurtz foi decretada pelo governo, para evitar de ser questionado pelo coronel rebelde. A morte é preferível ao julgamento, por isso, a guerra continua. Aliás, o horror da guerra, para o qual Willard retorna, com o único companheiro que sobreviveu na jornada.

Final Cut

Rever Apocalypse Now agora, em sua versão Final Cut, é uma experiência deslumbrante. Mais enxuta que a longa versão Redux, com 196 min, acrescenta, em relação à versão original, basicamente as sequências do roubo da prancha de Killgore e da propriedade da família francesa. E o som, componente essencial deste filme, permite uma sensação envolvente que a tecnologia anterior não permitia. É o melhor dos dois mundos: os efeitos visuais grandiosos antes da computação gráfica e a tecnologia de som Dolby Atmos.

Impactante, Apocalypse Now é o ponto alto da carreira do genial Francis Ford Coppola. Uma inesquecível sessão sensorial e provocativa.

 

Apocalypse Now (filme)
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