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O Quarto de Jack (filme)
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O Quarto de Jack

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

“O Quarto de Jack” vai além do suspense do cativeiro

O livro e o roteiro de Emma Donoghue evitam dois caminhos óbvios que a estória do cativeiro de uma jovem (Brie Larson) e seu filho Jack (Jacob Tremblay) poderia tomar. Ou seja, “O Quarto de Jack” não é um filme de suspense em torno da fuga desses dois personagens do depósito onde ficaram presos por sete anos. Nem tampouco uma variante do tema de “A Vida é Bela” (La Vitta é Bella, 1997), onde Roberto Begnini vivia um pai que fantasiava uma falsa realidade para que seu filho pudesse suportar a vida no campo nazista. Tem um pouco dos dois, mas “O Quarto de Jack” consegue ser único.

O enredo

Um homem (Sean Bridgers) rapta uma garota de dezessete anos e a aprisiona em um depósito pré-fabricado de ferro instalado no quintal de sua casa. Seus abusos sexuais acabam gerando um filho, Jack. E a narrativa começa no aniversário de cinco anos do menino. É uma data importante, porque sua mãe tem um plano de fuga que depende que ele esteja grande o suficiente. Habitualmente, o captor, chamado de Old Nick, lhe faz visitas semanais aos domingos, quando a violenta. Nessas visitas, ela coloca Jack em um armário, para que ele não presencie esse ato. Em certa ocasião, ele sai desse pequeno refúgio e Old Nick o segura com violência. Essa é a gota final que dá coragem à mãe para colocar seu arriscado plano em ação.

Em seguida, a segunda parte do filme aborda o drama da readaptação de Jack e sua mãe à vida fora do cativeiro. O garoto, apesar de nunca ter visto o mundo fora do pequeno quarto que habitava, demonstra pouca dificuldade em aprender a conviver com as novas pessoas que passam a fazer parte de sua vida, como sua vó (Joan Allen). Já sua mãe sofre mais, principalmente diante do preconceito de seu pai (William H. Macy) em relação a Jack, e tudo desanda após uma entrevista à televisão.

Retrato do sentimento de Jack

O ainda desconhecido diretor irlandês Lenny Abrahamson transmite habilmente o sentimento de Jack. No cativeiro, o pequeno espaço parece maior, exatamente como o menino o percebia. Por isso, a opção de Abrahamson foi de evitar que se tornasse claustrofóbico, filmando sempre o mais longe possível da ação. Assim, o cineasta privilegia o ponto de vista de Jack, que narra o filme com observações que refletem o que sentia na época, com a singeleza da idade. Nesse sentido, na emocionante cena da fuga, o foco permanece no deslumbre do menino conforme vai descobrindo o mundo exterior. Como resultado, suas percepções provocam os momentos mais melodramáticos do filme.

Por outro lado, o destino do captor é, propositadamente, ignorado no filme, para não desviar a atenção do espectador.

A dupla de atores principais apresenta um magnífico trabalho. Brie Larson demonstra a força externa escondendo a infelicidade por dentro, durante as cenas no cativeiro. E consegue revelar o efeito oposto ao voltar para o mundo externo, extravasando o que ficou represado, o que torna evidente a fragilidade de uma garota cujos anos de juventude se resumiram a uma resignada convivência com a violência e falta de liberdade. E o menino Jacob Tremblay surpreende, cativando o espectador desde os primeiros momentos com suas narrativas e sua presença expressiva na tela.

Adicionalmente, as notas de piano, poucas e espaçadas, da trilha sonora de Stephen Rennicks, combinam perfeitamente com o sentimento de melancolia de muitas sequências do filme, facilitando a fluência da emoção.

Acima de tudo, “O Quarto de Jack” merece louvor por expandir um assunto que poderia originar um filme focado apenas no suspense da vida em cativeiro. Ou, alternativamente, um melodrama exagerado. Dessa forma, o transforma em um retrato comovente de coragem da existência dentro e fora da prisão.


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