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Le Blues entre les Dents (filme)
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Le Blues entre les Dents | Por Marcelo Moreira

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

Crítica | Ficha técnica

O blues de verdade sai da alma. E foi esse blues que um cineasta grego apoiado por franceses tentou encontrar e levar para as telas em 1972 em um filme antológico. 

Le Blues entre les Dents (blues com dentes cerrados, em francês), que ganhou um título inglês – “Blues Under The Skin”, ou “Blues debaixo da pele”, em tradução livre e literal – não encontrou o blues que sai da alma de forma integral. Mas chegou bem perto, tornando-se uma pequena obra-prima.

O filme é interessante porque traz uma visão europeia não anglo-saxônica das origens e da antropologia do blues, um gênero que chegou a ser sequestrado pelos ingleses a partir dos anos 60 a ponto de ser tão indissociável das ilhas britânicas quanto do sul dos Estados Unidos.

É um documentário clássico sobre o verdadeiro blues americano, daqueles que nascem espontaneamente na boca dos esquecidos da sociedade americana. 

Ficção e análise sociológica

Realizado pelo grego Roviros Manthoulis, a fita ficção se mistura muito subtilmente com a análise sociológica. Na impossibilidade de obter depoimentos crus e reais de negros nas plantações de algodão, o diretor buscou nos trabalhos forçados de prisioneiros negros do sul americano dos “tempos atuais” uma forma espontânea de cânticos de lamento que deram a origem ao gênero musical no tempo da escravidão, no século XIX. 

Seriam cenas dos prisioneiros verdadeiras, com os cativos representando a si mesmos, ou também não apenas atores encenando? 

As tramas que se passam em Chicago e Nova Orleans, essas sim não passam de ficção para demonstrar como o fosso social entre brancos e negros, nos anos 60 e 70, ainda era imenso, e como o blues permeava a existência da população urbana afro-americana desde sempre.

A alma do blues aparece em algumas cenas, principalmente no números musicais filmados de gente como Buddy Guy, Junior Wells e B.B. King. São cenas antológicas, registradas em locais pequenos, em um momento em que o blues lutava para recuperar o espaço perdido, ainda que os roqueiros ingleses tenham dado muita força.

Mesmo sem uma forte narrativa, as imagens e os depoimentos, fictícios ou não, compõe um mosaico de informações valiosas sobre como o blues moldou parte da alma americana e está de tal forma inoculado na corrente sanguínea dos negros americanos a ponto de ser uma característica indissociável dessa população. 

Muita gente acredita que a música, entre todas as artes, costuma ser aquela que deixa o legado mais palpável e mais direto. Se é assim, o blues é um legando imenso de um dos povos mais criativos e sofridos que existem e existiram.

Texto escrito por Marcelo Moreira, publicado no site Combate Rock e aqui reproduzido mediante autorização.

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Ficha técnica:

Le Blues entre les Dents | 1973 | França | 88 min | Direção: Roviros Manthoulis | Roteiro: Roviros Manthoulis, Claude Fléouter | Com: Brownie McGhee, Sonny Terry, Robert Pete Williams, Mance Lipscomb, Furry Lewis, Junior Wells, Buddy Guy, B.B. King | Elenco: Amelia Cortez, Onike Lee, Roland Sanchez, Jimmy Huff, William L. Evans.

Le Blues entre les Dents foi um dos destaques do segmento “Flashback” da 15ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical. A sessão no dia 25 de junho, no Cinesesc, teve apresentação do jornalista Marcelo Moreira, do Combate Rock (assista aqui).

Le Blues entre les Dents (filme)
Le Blues entre les Dents (filme)
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