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Living (filme)
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Living

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

Living ousa refilmar a obra-prima Viver (Ikiru, 1952), de Akira Kurosawa. Quem teve essa ideia não é qualquer um, mas Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura em 2017, e o autor do livro que deu origem ao filme Vestígios do Dia (Remains of the Day, 1993). O escritor japonês adapta a história, que era contemporânea à época das filmagens, para a Londres de 1953. No lugar de Takashi Shimura está Bill Nighy, que assume a missão de entregar uma atuação igualmente magnífica. O veterano ator britânico tem cacife para esse desafio. Ele já atuou em mais de oitenta filmes e ganhou o BAFTA por Simplesmente Amor (Love Actually, 2003).

A grande dúvida era se o diretor Oliver Hermanus daria conta do recado. Nos quatro filmes que dirigiu até agora, não há nenhuma pista da genialidade de um Akira Kurosawa. Mas, talvez consciente disso, Hermanus se mantém dentro do correto cinema clássico, sem apelar para modismos como câmera trêmula e protagonista vomitando. A câmera está firme no tripé, filmando com enquadramentos caprichados que ajudam a narrativa.

O destaque em sua direção está na fotografia, predominantemente escura, como exige o tema do filme. Para exemplificar o bom uso do enquadramento e da iluminação, citamos a cena na qual o filho do personagem principal conversa com a amiga deste último. Enquanto a escuridão predomina nos cantos, a luz natural vinda da janela ilumina os personagens no centro da tela, alternando o plano médio com planos e contraplanos.

Ainda em relação à direção, merece nota o slow motion usado na parte inicial do filme, para mostrar a movimentação dos funcionários públicos. O recurso de desaceleração retrata a ideia de que os empregados trabalham em ritmo lento, desmotivados e sem engajamento. Na parte final, isso contrasta com o corre-corre que o protagonista impõe aos colegas, determinado que está em executar a sua missão. Após a sua morte, seu exemplo, pelo menos a princípio, repercute e vemos os funcionários subindo as escadas já em velocidade normal, e não desacelerada.

A trama

Bill Nighy interpreta Williams, o chefe de um departamento público. Sisudo e seco, ele pouco fala, por isso, conhecemos a sua personalidade através dos comentários das pessoas ao redor (seus subordinados no trabalho, o filho e a nora). Essa situação imutável tem um fim, quando Williams recebe a notícia de que está com um câncer em estágio terminal. Com poucos meses de vida, a primeira coisa que faz é faltar ao trabalho (evento raríssimo) e se divertir à noite (com a ajuda de um desconhecido, pois ele nunca fez isso).

Mas é a aproximação com sua subordinada Margaret Harris (Aimee Lou Wood) que o desperta de sua existência sem propósito. Então, ao invés de ficar procrastinando os projetos que dão algum trabalho, ele resolve abraçar uma causa e se empenhar para concretizá-la. Assim, retoma uma petição para a construção de um parquinho para crianças, no lugar dos destroços deixados pela Segunda Guerra Mundial.

Living, embora bem filmado, e com uma performance forte de seu ator principal, não consegue comover como fez Viver, de Kurosawa. Não vemos aqui momentos equiparáveis às tristes cenas da cantoria na casa noturna e no balanço do parque, nem o baque do prognóstico médico. O ponto da virada do protagonista, neste filme, é simples, sem a bela analogia das meninas que cantam “Feliz Aniversário” marcando o renascimento do personagem.

Mas tanto Ishiguro como Hermanus realizam uma adaptação digna. Living não ganharia elogios de Kurosawa, mas não desonra a sua inesquecível obra sobre o sentido da vida.

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Ficha técnica:

Living | 2022 | 102 min | Reino Unido, Japão, Suécia | Direção: Oliver Hermanus | Roteiro: Kazuo Ishiguro | Elenco: Bill Nighy, Aimee Lou Wood, Alex Sharp, Adrian Rawlins, Hubert Burton, Oliver Chris, Michael Cochrane, Anant Varman

Onde assistir:
Living (filme)
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