O diretor dinamarquês Thomas Vinterberg se tornou conhecido ao lançar o movimento Dogma 95, ao lado de Lars Von Trier. Dessa fase, seu melhor filme é Festa de Família (Festen, 1998). Já em sua carreira pós-Dogma, seus trabalhos mais famosos são A Caça (Jagten, 2012) e Druk – Mais uma Rodada (Druk, 2020), ambos protagonizados por Mads Mikkelsen. Entre esses dois longas, dirigiu, fora da Dinamarca, Longe Deste Insensato Mundo (Far from the Madding Crowd), nova adaptação do clássico da literatura do inglês Thomas Hardy publicado em 1874. O livro já ganhou as telas em outras ocasiões, com destaque para o filme de 1967 dirigido por John Schlesinger e estrelado por Julie Christie.
Desta vez, Carey Mulligan interpreta a protagonista Bathsheba Everdene, a jovem dividida entre três pretendentes. O primeiro deles é o fazendeiro vizinho Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts) que tem o infortúnio de perder tudo e ter que virar empregado de Bathsheba, inviabilizando, assim, por motivos sociais, suas chances de se casar com a moça. O segundo é o rico fazendeiro William Boldwood (Michael Sheen), mais velho e que promete segurança para Bathsheba. Por fim, tem o sedutor e impetuoso jovem Francis Troy (Tom Sturridge), um sargento desiludido porque pensa que foi abandonado no altar pelo seu grande amor.
Filmado em widescreen, o longa aproveita as belas paisagens de suas locações rurais na Inglaterra. O filme ainda conta com uma envolvente e apropriada trilha musical de Craig Armstrong. A fotografia, exuberante, ainda capricha na captação da plasticidade dos jovens atores principais – Martin Sheen fica fora desse foco justamente para evidenciar que o que seu personagem tem a oferecer é uma vida estável por conta de suas finanças. Porém, o filme chega perto do exagero no uso da câmera trêmula para indicar os momentos de maior tensão no enredo, quase caindo nesse recurso apenas por modismo.
Duas partes desiguais
Se dividirmos o filme em duas partes, a primeira iria até Bathsheba conhecer cada um dos seus pretendentes, temos claramente uma parte inicial forte e uma final sem fôlego.
No começo, o uso da narração off em primeira pessoa conduz o espectador a embarcar nesse privilegiado jogo do amor vivido pela personagem principal. Que sorte tem ela de poder escolher entre três opções, cada uma com seus benefícios particulares.
Depois que Bathsheba faz sua escolha, o filme perde muito de seu interesse. Logo, sua decisão se mostra um grande desapontamento. Aquela mulher destemida que peitou a sociedade ao se representar sozinha no mercado de produtos parece ter dado lugar a uma mulher casada submissa. Incapaz, até, de sair desse casamento furado no qual se meteu.
O enredo também não consegue ser tão emocionante quanto deveria, porque apresenta soluções dramáticas fáceis demais. Isso vem do livro, mas a forma como o filme as apresenta evidencia essa fragilidade. Assim, se sucedem eventos de virada de rumo cujo potencial de contundência não é aproveitado. Por exemplo, na cena em que Oak perde seu rebanho, falta suspense. Da mesma forma, quando Bathsheba não resiste a Troy, falta erotismo. E, quando Boldwood enfrenta o marido violento, falta ação. Acima de tudo, a cavalgada em direção ao amado, finalmente escolhido, repete uma cena que já esteve no filme, e deveria estar repleto de emoções, misturando suspense, amor, paixão e alegria.
A sensação que fica é que Longe Deste Insensato Mundo é um filme belo, porém frio demais.
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Ficha técnica:
Longe Deste Insensato Mundo | Far from the Madding Crowd | 2015 | 119 min | Reino Unido, EUA | Direção: Thomas Vinterberg | Roteiro: David Nicholls | Elenco: Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Tom Sturridge, Michael Sheen, Jessica Barden, Juno Temple, Bradley Hall, Hilton McRae, Harry Peacock.