Ma explora a imagem da mulher de idade média que assume a imagem de mãezona da garotada adolescente. A atriz Octavia Spencer é a escolha perfeita para assumir essa personagem, a Sue Ann ou a “Ma” (de mãe) do título. Porém, essa vilã não apresenta a consistência que esse suspense precisa.
Aparentemente, o retorno de Erica (Juliette Lewis) para sua pequena cidade natal com sua filha adolescente Maggie (Diana Silvers), completa o elemento que faltava para despertar a raiva acumulada por Sue Ann durante 30 anos. Quando adolescente, Sue Ann foi humilhada num bullying envolvendo exploração sexual pela sua turma na escola. A chegada de Erica, finalmente, agrupa todos os envolvidos e a traumatizada mulher pode, enfim, se vingar de todos. O enredo lembra o recente Bela Vingança (Promising Young Woman, 2021). Porém, Ma perde força no modus operandi de sua desforra.
Aliás, exatamente nesse ponto a personagem Sue Ann se desmantela no filme. Até então, ela surgira como a simpática, mas misteriosa, mãezona que ajuda a turma de Maggie (todos menores de idade) a comprar bebidas. Além disso, ela empresta o porão de sua casa para a garotada fazer suas festas secretas e ainda participa ativamente delas. Porém, o roteiro de Scotty Landes falha ao não revelar os motivos de sua virada. Deixa em dúvida se ela planejara friamente a vingança desde o primeiro encontro com Maggie, ou se a faísca que disparou sua explosiva faceta violenta foi a decisão da turma em excluí-la das festas.
Violência à Blumhouse
Já os atos de violência seguem o padrão da violência explícita da produtora do filme, a Blumhouse. O primeiro deles surpreende pela decisão súbita da vilã de atropelar uma das colegas que a humilharam. Causa surpresa, mas esse assassinato soa totalmente deslocado da trama, pois se afasta da vingança planejada por Sue Ann. O outro ato de vingança que também não convence é a tortura do principal responsável pela humilhação do passado. Na verdade, ao misturar a retaliação contra os adultos que a prejudicaram e, também, contra os filhos deles, o enredo perde o sentido, e a vilã sua consistência. Uma pena, pois até começar a violência, o filme e a personagem má pareciam instigantes.
Em suma, Ma comprova a irregularidade do diretor Tate Taylor. Entre seus acertos, estão Histórias Cruzadas (The Help, 2011), que também contava com Octavia Spencer no elenco, e A Garota no Trem (The Girl on the Train, 2016), thriller que deve ter estimulado sua contratação para o filme desta crítica. Por outro lado, Taylor não empolga em Get on Up: A História de James Brown (Get on Up, 2014). Tal como faz, agora, em Ma.
___________________________________________
Ficha técnica:
Ma (Ma, 2019) EUA. 99 min. Dir: Tate Taylor. Rot: Scotty Landes. Elenco: Octavia Spencer, Diana Silvers, Juliette Lewis, McKaley Miller, Corey Gogelmanis, Gianni Paolo, Dante Brown, Tanyell Waivers, Dominic Burgess, Heather Marie Pate.
Universal Pictures
Trailer: