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Manchester à Beira-Mar (filme)
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Manchester à Beira Mar

Avaliação:
7/10

7/10

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Crítica | Ficha técnica

“Manchester à Beira Mar” é um dos filmes mais tristes de 2016

Com “Manchester à Beira Mar”, a Amazon Studios conseguiu o que sua concorrente tentou, mas não alcançou com “Beasts of No Nation” (2015). Ou seja, reconhecimento de qualidade através de um prêmio no Oscar. O produto de Jeff Bezos, que estava presente na cerimônia do dia 26 de fevereiro, conseguiu indicações em seis categorias importantes. São elas: filme, direção, ator e atriz coadjuvantes, ator principal e roteiro original –  e levou a estatueta por essas duas últimas.

O diretor e roteirista Kenneth Lonergan mereceu o prêmio pelo que “Manchester à Beira Mar” apresenta de melhor. Ou seja, o relato da triste vida de Lee Chandler (Casey Affleck).  O profundo desgosto deste se originou com o incidente no qual provocou, sem querer, o incêndio de sua casa que matou seus três filhos pequenos. O enredo só revela essa tragédia na metade do filme. Até então, o espectador acompanha Chandler quando ele é informado que seu irmão, que sofria problemas cardíacos degenerativos, falece no hospital onde era tratado. A explicação para seu comportamento agressivo e avesso aos relacionamentos pessoais só chega através de um dos vários flashbacks que intercalam a narrativa linear.

O momento do trágico acidente ganha trilha sonora clássica, que substitui o apelo às lágrimas pela sensação de se estar diante de um evento tão desastroso que se aproxima do irreal, enquanto se torce para que tudo seja apenas um pesadelo. O tom sóbrio da música, e a leve redução da velocidade da cena, coloca o incêndio sob a perspectiva de uma experiência ainda não absorvida pela consciência de Chandler. Mais tarde, no velório, o mesmo visual em slow motion é acompanhado por uma ópera (uma evidente influência de Francis Ford Coppola), causando o mesmo efeito cataclísmico.

Negação

A negação da realidade como tentativa ilusória de se prevenir da dor marca fortemente Chandler. Assim, ele bebe e provoca brigas com essa finalidade. Evita, ainda, falar com a agora ex-esposa Randi (Michelle Williams), a mãe dos filhos que morreram queimados, mesmo quando ela o procura para buscarem juntos a redenção. Reação semelhante demonstra Patrick (Lucas Hedges), seu sobrinho de 16 anos que acaba de perder o pai e de quem Chandler será tutor. Demora um bom tempo até que o rapaz libere suas emoções e se permita chorar pela perda. Essa tentativa de se esquivar do sofrimento fica evidente no bordão repetido mais de uma vez pelos personagens: “Temos que falar sobre isso agora?”.

Kenneth Lonerman exibe mais créditos como roteirista (“Máfia no Divã”, “Gangues de Nova York”), do que como diretor. Esta função ele exerceu pela primeira vez em “Conte Comigo” (You Can Count On Me, 2000), pelo qual foi indicado para o Oscar de roteiro original. Aliás, Matthew Broderick aparece em um pequeno papel em “Manchester à Beira Mar” porque ele foi o protagonista deste debut de Lonerman. Nesse terceiro longa metragem de sua carreira, o diretor estampa nas telas o sentimento de desgraça incorporado por Chandler após sua tragédia, sem levantar esperanças de mudanças.

O clima frio da cidade de Manchester, a trilha sonora, e a composição do ator Casey Affleck asseguram essa tristeza que permanece por todo o filme, ainda que o trabalho de direção não fuja muito do convencional.  Como os personagens, o espectador se sentirá profundamente triste, mas não transformará esse sentimento em lágrimas.


Manchester à Beira-Mar (filme)
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