Poster do filme "Maria Callas"
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Maria Callas

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Maria Callas acompanha os sete últimos dias da cantora de ópera nascida em Nova York em 1923 e falecida em 1977. Com o filme, o diretor Pablo Larraín encerra a sua trilogia sobre grandes mulheres, iniciada com Jackie (2016) e seguida por Spencer (2021), este último com roteiro do mesmo Steven Knight de seu novo lançamento. Por sua vez, Jacqueline Kennedy Onassis está entrelaçada com a história de Callas por conta do multimilionário Aristóteles Onassis, que se relacionou com as duas.

Fantasia e realidade

O cineasta chileno costuma colocar um pé na fantasia em seus filmes, mesmo nos que envolvem acontecimentos reais. No caso de Maria Callas, a ponte para esse direcionamento está na ópera e nas drogas. No crepúsculo de sua vida, a cantora era dependente do medicamento Mandrax, e no filme, nada sutilmente, é um personagem com esse nome (interpretado por Kodi Smit-McPhee), supostamente um jornalista, que a leva a contar a sua história como numa entrevista e ao rodar com ela por lugares de Paris que evocam as suas lembranças.

O filme não distingue o que é imaginado do que é real, mas a presença do repórter chamado Mandrax é suficiente para essa separação. Já os flashbacks surgem em preto e branco, portanto o espectador nunca confunde os relatos. Após a abertura com o flash forwarddo momento em que encontram Callas morta, aparece uma sequência poderosa, e desafiadora para a interpretação de Angelina Jolie, com a cantora em close cantando “Ave Maria” com o olhar direcionado para a câmera. Tal aproximação, principalmente na tela grande do cinema, permite identificar os movimentos da boca e dos músculos da face perfeitamente sincronizados com a dublagem da canção. Enquanto isso, alguns trechos de sua vida se intercalam ao close-up. Essa sequência está em preto e branco, pois no tempo da narrativa Callas já perdeu a potência da sua voz.

De Maria a Callas

Várias apresentações surgem no filme. Algumas em tom reservado, como no surpreendente momento em que ela e a irmã são prostituídas pela mãe – um trauma que Callas nunca conseguiu resolver (“fechar as portas”, como a irmã fez), como revela a sequência das suas visões quando está morrendo no fim do filme. Nesse trecho, ela encontra sua versão mais jovem e tenta em vão apertar a mão dela, gesto que significaria a reconciliação com o passado. As outras performances são grandiosas, no palco de grandes casas de ópera, como de fato aconteceram. Entre elas, a primeira vez que Callas cantou num palco, em Veneza, substituindo às pressas a cantora titular, e impressionando a todos. Mas, a mais deslumbrante acontece em frente a um teatro, embaixo de chuva e cercada por gueixas com sombrinhas.

Dois atores italianos de porte, Pierfrancesco Favino e Alba Rohrwacher, interpretam o mordomo e a governanta de Callas. Essa escolha de elenco evidencia a importância desses dois personagens, Ferruccio e Bruna, que são muito mais do que empregados da cantora. Durante todo o filme, eles provam a lealdade deles, principalmente nos momentos mais difíceis no final quando Callas tenta, mas não consegue mais cantar nos ensaios com um pianista – e um jornalista tenta sair com uma gravação deste fiasco. A conversa à mesa entre os três encerra essa parceria de intensa intimidade.

Um dos melhores de Larraín

Pablo Larraín cria uma bela despedida de Maria Callas. Na janela de seu apartamento, ela canta “Vissi d’Arte” (Giacomo Puccini), enquanto imagens congeladas de pessoas nas ruas a ouvem em admiração e respeito. Em seguida, o filme retoma o prólogo, desta vez com a câmera atravessando para dentro da sala onde está o corpo da cantora, encontrado por Ferruccio e Bruna. Com esse movimento, o filme parece dizer ao espectador que, agora que ele já conhece Maria Callas, pode se aproximar dela. Ou, alternativamente, o filme representa a sua alma partindo, e agora o que resta na sala é apenas a matéria.

No filme Maria Callas, Pablo Larraín equilibra sua tendência ao cinema fantástico com os relatos de uma cinebiografia. Afastou-se, assim, da viagem sem rumo de O Conde (2023) em direção ao realismo da pessoa comum de Tony Manero (2008). Este último, junto com Ema (2019) e agora Maria Callas, são os melhores filmes do diretor.

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Ficha técnica:

Maria Callas | Maria | 2024 | 124 min. | Itália, Alemanha, Chile, EUA | Direção: Pablo Larraín | Roteiro: Steven Knight | Elenco: Angelina Jolie, Pierfrancesco Favino, Alba Rohrwacher, Haluk Bilginer, Kodi Smit-McPhee, Stephen Ashfield, Valeria Golino, Caspar Phillipson, Lydia Koniordou, Vincent Macaigne, Aggelina Papadopoulou, Erophilie Panagiotarea.

Distribuição: Diamond Films.

Trailer:

Onde assistir:
Angelina Jolie em "Maria Callas"
Angelina Jolie em "Maria Callas"
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