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Poster de "Jardim dos Desejos"
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Jardim dos Desejos | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6.5/10

6.5/10

Crítica | Ficha técnica

Faz um tempo que penso em Paul Schrader como um dos maiores desperdícios de talento do cinema americano. Fé Corrompida (First Reformed, 2017), por exemplo, tem alguns momentos em que esse talento fica evidente, e são eles que fazem com que o filme seja bom, apesar de seu ritmo calcado num Dreyer simplificado.

O Contador de Cartas (The Card Counter, 2021), por outro lado, parece ter por trás da câmera um diretor que pensa ser gênio e por isso não entende ou menospreza a importância da pesquisa, do trabalho, da apuração do olhar, em suma, de um capricho a mais na hora de filmar e, antes, da preparação para o set.

Em Jardim dos Desejos, a metáfora do desabrochar para se mostrar uma personalidade mais resolvida, do jardim colorido e da ordem como sinônimos de tranquilidade e equilíbrio, é razoavelmente bem levada por Schrader.

Temos um jardineiro mestre, Narvel Roth (Joel Edgerton), que comanda uma equipe de jovens jardineiros para uma rica matriarca chamada Norma (Sigourney Weaver). Um dia, essa matriarca pede que ele ensine tudo o que sabe para sua sobrinha-neta Maya (Quintessa Swindell), uma moça negra viciada em drogas.

Até aí tudo bem. Ainda não sabemos quem é de fato Narvel e que tipo de relação ele tem com Norma. Os monólogos que ouvimos não nos esclarecem muito, a não ser que Schrader nos faz também aprendizes de jardinagem.

Aos poucos, tomamos conhecimento de algumas coisas. Sobretudo o passado de Narvel é cheio de problemas, com a lei, com um grupo fascista, com uma família que ele nunca tratou bem. Norma fez um favor ao aceitar que Narvel trabalhe para ela, o que o deixa com as mãos um pouco atadas.

Trabalhando as expectativas

Schrader sempre foi especialista em frustrar as expectativas do público. Exemplo: Narvel Roth aparece sem camisa, na solidão de seu quarto, observando as marcas que traz na pele. Em suas costas vemos a SS nazista tatuada duas vezes, suásticas e uma inscrição White Power perto dos ombros. Sem camisa, vemos o que ele é, ou foi. Já havia uma integrante negra em sua equipe. Maya é a segunda, e foi meio que imposta. Que riscos elas correm com alguém que ainda pode ser neonazista?

Mas numa noite, Norma chama Narvel para uma transa. Pede que ele tire as roupas primeiro. Vemos que ela se impressiona com o tórax onde estão tatuadas uma caveira e os números 14, do lado direito, e 88, do lado esquerdo, formando uma combinação muito usada por neonazistas. Saberia ela desse código? Teria ela visto as costas dele? Sabe que emprega alguém que é ou foi neonazista? O corte nos deixa sem respostas.

E mais uma vez acontece o que tem sido bem comum no cinema contemporâneo, digo, de uns 20 ou 30 anos para cá. Quanto mais explica, pior fica. Normalmente, a frustração das expectativas do público resulta em filmes mais ricos, ambíguos, cheios de mistérios que ficam com cada espectador muito além da projeção.

Talvez Jardim dos Desejos não sofra tanto porque as coisas que se passam na cabeça de Norma permaneçam em grande parte um mistério, a não ser seu desejo por Narvel como um objeto sexual e seu ciúme da relação crescente entre ele e Maya. Ainda assim, é decepcionante que Schrader não tenha ido mais longe na ambiguidade de seu protagonista, ao menos deixando para revelar sua atual personalidade mais perto do fim.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Jardim dos Desejos | Master Gardener | 2022 | 111 min | EUA | Direção e roteiro: Paul Schrader | Elenco: Joel Edgerton, Sigourney Weaver, Quintessa Swindell, Esai Morales, Eduardo Losan, Victoria Hill, Amy Lee, Erika Ashley.

Distribuição: Pandora Filmes.

Assista ao trailer aqui.

Onde assistir:
Master Gardener (filme)
Master Gardener (filme)
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