“Medo Viral” reúne duas temáticas que influenciaram também outras produções de terror contemporâneas. Primeiro, a maldição que é transmitida de uma pessoa a outra, como foi visto em “Corrente do Mal” (It Follows, 2014). Segundo, os possíveis perigos por trás da internet, que já foi retratado em filmes como “Amizade Desfeita” (Unfriended, 2014). Aliás, são dois assuntos que permitem várias abordagens na criação de um roteiro do gênero.
Os diretores são os irmãos Abel Vang e Burlee Vang, cineastas americanos com origem hmong, etnia da região do sul da China, norte do Vietnã e do Laos. O longa de estreia da dupla, “Nyab Siab Zoo” (2009), ganhou notoriedade por ser falado no idioma deles. “Medo Viral” é o terceiro filme deles e conta como uma entidade do mal se espalha entre um grupo de jovens do último ano do fundamental através de um aplicativo de celular.
A primeira vítima é Nikki, e é a partir de seu celular que seus amigos receberão um convite do app maldito. Sua melhor amiga, Alice, verá sua turma ser morta até se aliar ao especialista em informática Cody para entenderem como surgiu a criatura e enfrenta-la.
Referências
O prólogo do filme é promissor, parece homenagear as produções do gênero realizadas nos anos 1980, em especial “A Hora do Pesadelo” (A Nightmare on Elm Street, 1984), em sua estética com fotografia com muita névoa e direção de arte que cria corredores em estúdio por onde a câmera persegue a vítima com planos inclinados. Até mesmo o vilão guarda referências a Freddy Krueger, principalmente pelas suas gracinhas assustadoras, mas também pela sua figura esguia. Porém, essas qualidades se perdem no restante do filme.
Um dos erros dos irmãos Vang foi deixar de lado essa figura esguia do vilão, para que cada personagem/vítima sofresse com uma materialização específica do que é seu maior medo. Isso acaba por evidenciar os parcos recursos da produção, que foi incapaz de construir seres assustadores a partir desses medos particulares de cada um, como, um ursinho de pelúcia velho, uma avó com demência, uma mulher asiática grávida, etc. No roteiro, esses seres talvez parecessem aterrorizantes, mas o que acabou indo para a tela não assusta ninguém.
Sem jump scares
Deve-se, contudo, louvar os diretores por evitarem os sustos fáceis, recurso apelativo que se tornou praxe na maioria dos filmes de terror. Os sustos são aqueles momentos de surpresa que fazem os espectadores pularem em seus assentos, mas que não conseguem criar um clima de suspense. Portanto, só funcionam na primeira ou na segunda vez, não mais que isso porque o recurso já se torna esperado.
Em várias cenas, os Vang preferem mostrar seus monstros de longe e aproximá-los aos poucos. A intenção é de aterrorizar através do medo de ver de perto essas criaturas, e não fazendo elas aparecem de repente na tela. Só não funciona de fato devido à tosca produção desses seres.
Porém, o filme se ressente de não conter muita violência. Os amigos de Alice morrem, um a um, por causa da criatura do app, mas o que os mata é o medo extremo diante da materialização do que eles mais temem. É um medo mais psicológico, o que não precisaria necessariamente evitar que se expusesse uma cena mais assustadora, como o rosto das vítimas deformado por esse terror. Mas Medo Viral desperdiça as mortes, em termos de potencial para assustar. Por exemplo, quando Gavin, o namorado de Alice morre, ele só é mostrado de costas e de longe.
Por tudo isso, “Medo Viral” falha em seu intento, aquele de todo filme de terror, que é o de assustar.
Ficha técnica:
Medo Viral (Bedeviled, 2016) EUA 91 min Dir/Rot: Abel Vang e Burlee Vang. Elenco: Saxon Sharbino, Bonnie Morgan, Brandon Soo Hoo, Alexis G. Zall, Robyn Cohen, Aaron Hendry, Kate Orsini, Victory Van Tuyl, Matty Finochio, Brett Wagner, Camden Toy, Mitchell Edwards, Billy Mayo.
Fênix Distribuidora