Thomas Hardiman estreia na direção de longas com ousadia na forma. Filma Meduxa Deluxe como se fosse uma tomada única, o que contribui para deixar sua trama de mistério sufocantemente claustrofóbica, ainda mais porque as cenas acontecem quase todas entre quatro paredes, nos camarins de um concurso de penteados. Além disso, o formato da tela não é o hoje costumeiro widescreen, mas sim 4:3 (um pouco mais próximo do quadrado), o que também acrescenta a sensação de estarmos num espaço apertado. Uma solução acertada, que se relaciona à narrativa.
Um crime hediondo acaba de acontecer: um dos cabelereiros da competição aparece morto e escalpado. Mas o filme não mostra a investigação policial em curso, apenas as conjecturas das pessoas que estavam no ciclo de convívio da vítima. Assim, a câmera acompanha os cabelereiros adversários na competição, as modelos, os pessoalmente relacionados com a vítima e um segurança que age de maneira esquisita.
Para evitar os cortes e manter a tomada única, o diretor Hardiman movimenta alguns personagens para que a câmera os acompanhe e possa registrar uma nova cena. Dessa forma, constrói uma tensão artificial, resultante dessa escolha formal, tentando compensar o enredo que não tem força para gerar essa sensação. Afinal, o crime já aconteceu, e não vemos os personagens em cena correndo nenhum perigo. O filme até trabalha a intenção de tornar o segurança assustador, ao evidenciar que ele está em estado alucinado por uso de drogas. Porém, suas aparições nesse sentido não funcionam, e até provocam risos não intencionais na plateia. Então, resta a alternativa de colocar os personagens em conflito, em questões alheias ao crime, o que só funcionaria se o filme assumisse ser uma comédia.
Um arremedo de Noé
Essa estreia de Thomas Hardiman o coloca na posição de um Gaspar Noé de segunda. Repete-o na ousadia formal e no iminente perigo à espreita, bem como na intenção de incomodar. Nesse sentido, Medusa Deluxe ecoa principalmente Clímax (2018), por conta dos personagens fashion, das drogas perigosas, da música e da dança. Além disso, Hardiman se apropria das acrobacias com a câmera de Noé, mas este lida com tudo isso com muito mais talento. Hardiman ainda cai na já cansativa mania de colocar uma cena de vômito tão usada nos filmes de hoje.
Por fim, o epílogo que traz os atores dançando juntos resume bem o que Medusa Deluxe representa: um arremedo. Nesta cena final, copia os finais bollywoodianos, mas sem sua coreografia impecavelmente elaborada e executada – pelo contrário, é um esculacho improvisado. Já o filme como um todo parece um Gaspar Noé sem seus movimentos de câmera mirabolantes e sem o perigo iminente de suas tramas. Hardiman incomoda, mas gera aborrecimento ao invés de tensão.
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Ficha técnica:
Medusa Deluxe | 2022 | 101 min | Reino Unido | Direção e roteiro: Thomas Hardiman | Elenco: Clare Perkins, Kayla Meikle, Lilit Lesser, Debris Stevenson, Anita-Joy Uwajeh, Kae Alexander, Harriet Webb, Darrell D’Silva, Heider Ali, Luke Pasqualino, Nicholas Karimi.