A premissa de Memória de Paris traz uma perspectiva singular. Aborda como se sentem os poucos sobreviventes de um atentado em massa.
A protagonista Mia (Virginie Efira) entra em um bistrô parisiense para beber alguma coisa enquanto espera a chuva passar. Mas atiradores invadem o local para matar todas as pessoas que estão lá dentro. Apesar de ferida, Mia consegue sobreviver, porém não se lembra do que aconteceu. Esse prólogo, que termina num fade-out com a tela preta, equivale ao que sua memória guardou a respeito dessa tragédia.
O enredo recomeça três meses depois do evento. Mia ainda não se recuperou psicologicamente do ataque e resolve retornar ao local do massacre. Descobre que não é a única com traumas, e conhece um grupo de vítimas que se reúne uma vez por semana no bistrô. No entanto, ela sai do primeiro encontro coletivo ainda mais confusa, pois uma das sobreviventes acusa Mia de ter se trancado no banheiro sem deixar outras pessoas entrarem. Por outro lado, conhece Thomas (Benoît Magimel), com quem se sente segura para conversar.
Esse início de filme soa promissor. Coloca dúvidas que a protagonista compartilha com o espectador. A principal, ou a mais grave delas, questiona a sua integridade. Será que Mia realmente se acovardou e se recusou a ajudar as pessoas que queriam se esconder? Enquanto segue nessa investigação, Memória de Paris mantém o interesse. Mas as possibilidades vão se desmanchando conforme a história avança. O objetivo de Mia, a partir de certo ponto, se concentra em procurar a pessoa que a ajudou a se abrigar durante o atentado.
Sem rumo
Incapaz de se sustentar nas profundezas do trauma de Mia, o filme busca linhas narrativas que produzam ação. Mas o esforço é em vão, pois desperdiça a chave da dúvida a respeito da suposta covardia da personagem. Aliás, o esclarecimento renderia um belo suspense que aqui não é aproveitado. Curiosamente, há dois momentos de jump scares muito eficientes no longa, que assustam, embora soam deslocados da narrativa.
Memórias de Paris, assim, caminha sem rumo até o seu final. Poderia simbolizar o desnorteamento da personagem principal, mas não parece ser pensado dessa forma. Resta a constatação, na verdade, que os realizadores encontraram uma premissa preciosa, mas não souberam lapidá-la.
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Ficha técnica:
Memórias de Paris | Revoir Paris | 2022 | 105 min | França | Direção: Alice Winocour | Roteiro: Alice Winocour, Marcia Romano, Jean-Stéphane Bron | Elenco: Virginie Efira, Benoît Magimel, Grégoire Colin, Maya Sansa, Amadou Mbow, Nastya Golubeva Carax.
Distribuiçãol: Mares Filmes.
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