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Meu Nome é Gal (filme)
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Meu Nome é Gal

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

Meu Nome é Gal desvirtua o didatismo da cinebiografia para retratar a Tropicália. O foco não se restringe a Gal Costa, inclui os membros do movimento, especialmente Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Quem quer conhecer a trajetória da cantora, pode buscar a série documental O Nome Dela é Gal (2017), de Dandara Ferreira, a codiretora deste longa ao lado de Lô Politi.

O filme possui a ameaça, real e concreta, de um vilão, que é a ditadura militar no Brasil. A trama capta a vinda de Gal Costa, ainda jovem, para o Rio de Janeiro, mudando-se depois para São Paulo. É o início de sua carreira, e vai do fim dos anos 1960 aos primeiros anos da década seguinte. Interpretada por Sophie Charlotte, ela vem da Bahia, ainda sem nome artístico, e se reencontra com os amigos. Entre eles, Dedé Gadelha (Camila Márdila), Caetano (Rodrigo Lelis), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Maria Bethânia (a própria codiretora Dandara Ferreira).

O enredo revela a figura do produtor Guilherme Araújo (Luis Lobianco), e mostra o quanto ele foi essencial para a cantora Gal Costa. Desde a escolha do seu nome, passando pela sua postura corporal e vocal, como em “Pigmalião”, ou Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964), Guilherme ainda a apoiou durante os anos de chumbo, quando a ditadura afugentou seus amigos para o exílio. Para a narrativa, esse personagem ganha mais importância ainda por seu carisma e por servir como um bem-vindo alívio cômico.

Música e política

Meu Nome é Gal começa na música, sem empolgar muito. O primeiro disco, gravado em parceria com Caetano Veloso, aqui não ganha a devida importância. O filme mostra uma sessão de gravação sem nenhuma emoção – e até mal dublada, questão que não atrapalha no restante do longa. É com a gradativa politização que o filme ganha força. As diretoras fazem questão de lembrar a todo instante o contexto daquela época, em imagens de arquivo com militares nas ruas. Exageram até em colocar tantas cenas digitalmente envelhecidas para que imagens filmadas agora se pareçam com vídeos caseiros. Além de aparecerem demais, quebrando a narrativa desnecessariamente, quase nunca faz sentido porque não havia ninguém gravando aquilo na época – a exceção são os filmes do exílio em Londres que Caetano, Gil e Dedé enviam para ela.

A politização que dá gás ao filme entra junto com a coletivização do protagonismo. A Tropicália surge, e o primeiro momento que mexe com os espectadores é a apresentação de Caetano sendo vaiado ao cantar que “É proibido proibir” num festival. Mexe, também, com Gal Costa, que estava nos bastidores e o grupo precisou sair correndo do local.

Gal se envolve nessa luta de resistência, atitude comprovada na cena em que ela canta “Divino Maravilhoso”, com seu refrão provocador (“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”). Porém, ela não está totalmente amadurecida ainda, e no dia seguinte cai numa paralisia emocional. Essa sequência fenomenal (o ponto alto de Meu Nome é Gal) desnuda o que era a realidade naquele momento: Caetano e Gil eram a força criativa da Tropicália, e Gal Costa a porta-voz. Na música, o resultado é o melhor LP de Gal: o “Gal Costa” de 1969.

A nova Gal

Essa Gal ainda temerosa de ser a voz da Tropicália e por isso ser castigada pelos militares (ela vê isso concretamente no estudante ferido que os amigos socorrem), dará lugar a uma artista que abraça a resistência. O filme fornece o suporte racional para essa decisão naquela cena de Caetano sendo vaiado no festival. Em outras palavras, se os artistas não mostrarem a monstruosidade da ditadura, mais pessoas a abraçarão, como fez a plateia daquela apresentação de Caetano. No isolamento temporal, é ilusório pensar que a população toda era contra a ditadura. Não era, e por isso era necessário ter vozes de resistência alardeando que havia outras realidades além daqueles oficialmente divulgadas.

A cena final leva para essa transição definitiva de Gal Costa. Mas o trailer do filme dava a impressão de que seria um momento mais impactante, pois quando a avisam que a polícia ia invadir o teatro quando o show dela acabasse, ela responde: “Então, o show não vai acabar!”. Era o gancho perfeito para a transição da Sophie Charlotte se apresentando no papel de Gal Costa dar lugar para imagens reais da cantora interpretando a mesma música – se possível, registros desse mesmo show; se não, pelo menos da mesma época. No entanto, o corte traz a cantora em um show mais recente, mais perto do ano de sua morte em 2022. Desperdiça-se, assim, o poder da montagem para fechar de forma impactante a mudança da artista após essa jornada transformadora.

À parte o exagero das inserções de época (ou como se fosse de época) e esse pecado na conclusão, Meu Nome é Gal acerta. Acima de tudo, por trazer um recorte da fase mais interessante de uma artista. Ou seja, aquela em que ela enfrenta suas dúvidas internas. Para, dali, sair com uma força imensa.

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Ficha técnica:

Meu Nome é Gal | 2023 | Brasil | 120 min | Direção: Lô Politi, Dandara Ferreira | Roteiro: Lô Politi, Maíra Buhler, Mirna Nogueira | Elenco: Sophie Charlotte, Rodrigo Lelis, Dan Ferreira, Dandara Ferreira, Chica Carelli, Camila Márdila, Luis Lobianco, George Sauma, Pedro Meirelles, Caio Scot, Barroso.

Distribuição: Paris Filmes.

Trailer aqui.

(fonte: divulgação | foto: divulgação/Stella Carvalho)

Onde assistir:
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