O drama romântico Meu Policial (My Policeman) reafirma a noção de que o preconceito contra gays dominava a sociedade ocidental nos anos 1950, ou seja, há apenas 70 anos. O cineasta Todd Haynes retratou essa situação em Longe do Paraíso (Far From Heaven, 2002) e Carol (2015), em relação aos Estados Unidos. Agora, Michael Grandage adapta para as telas o livro de Bethan Roberts baseado na vida do escritor inglês E.M. Forster, autor de várias obras que viraram filmes. Por exemplo, “Uma Passagem para a Índia”, “Um Quarto com Vista”, “Howards End” e “Maurice”.
Meu Policial começa no presente, quando Marion acolhe um antigo amigo dela e de seu marido Tom em sua casa. Patrick está acamado, com a saúde debilitada. Mas, por algum motivo, Tom se recusa a vê-lo. Então, quando Marion começa a folhear o diário de Patrick, se inicia o flashback que contará o passado desse amigo que viveram um triângulo amoroso com desfecho triste, devido ao preconceito que chegou até a condenar Patrick à prisão por atos obscenos – na verdade, por ser homossexual.
É uma história impactante, pois evidencia como esse preconceito arruinou muitas vidas, como as de Tom, Patrick e Marion. Os dois rapazes eram apaixonados um pelo outro, mas Tom se casou com sua amiga Marion, para satisfazer a sociedade e ter uma carreira policial promissora. A diferença da intensidade do sentimento de Tom por Patrick e Marion fica clara no calor das cenas de sexo com esses diferentes parceiros. Com alguma nudez, e muita sensualidade, vemos que Tom e Patrick não conseguem frear seus instintos. Enquanto isso, o intercurso de Tom com sua esposa é frio e protocolar. A sensibilidade desses momentos de relacionamento, porém, se contrapõe com a dura agressividade homofóbica.
Estrutura narrativa equivocada
No entanto, esse forte relato ambientado em 1957 e 1958 fica refém da equivocada estrutura narrativa do filme. O roteiro não sabe como inserir os eventos do presente na trama. A princípio, deveria instigar o espectador a se perguntar por que Tom se recusa a ver Patrick. Mas erra ao indicar que Marion descobre que o caso entre os dois lendo o diário. Pelo menos, é o que parece acontecer quando esse ato engatilha o flashback. Contudo, veremos que ela já sabia de tudo na época. As lembranças, então, provocadas pelo diário, supostamente induziriam à reflexão de Marion sobre o ato impensado dela que levou Patrick à prisão. Mas, o filme não segue essa linha, e a decisão final (no presente) soa deslocada.
Além disso, o flashback sequer esclarece o motivo da recusa de Tom rever Patrick no presente. Será que ele o culpa por destruir sua carreira de policial? Não faria sentido, pois os dois se amavam e Patrick foi vítima do preconceito social ao ser condenado à prisão. Aliás, o enredo deixa um hiato enorme sobre o que aconteceu após a libertação de Patrick e o presente. Quanto anos se passaram e eles nunca mais se viram? Enfim, muita coisa fica no ar, sem explicação.
Elenco e direção
O elenco de Meu Policial conta com dois astros em alta estima no momento. Harry Stiles surgiu na música, como membro do One Direction, e depois seguiu uma carreira solo de sucesso. No cinema, estrou com Dunkirk (2017) e se transformou em Eros no filme Eternos (2021) da Marvel. Aqui, ele encarna o Tom nos anos 1950. Já Emma Corrin (a jovem Marion) é a Lady Diana da série The Crown, e recentemente estrelou o sensual O Amante de Lady Chatterley (2022), entre outros trabalhos. Por fim, o filme ainda traz o ator em ascensão David Dawson como o jovem Patrick.
Este é o segundo longa-metragem com direção solo de Michael Grandage. Seu primeiro foi O Mestre dos Gênios (Genius, 2016), sobre Max Perkins, que foi editor de obras de escritores renomados como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald. Assim, novamente ele embarca num filme de época, mas agora com o tema do preconceito homofóbico. O relato dos eventos dos anos 1950 é contundente o suficiente para conduzir uma trama emocionante. Mas a narrativa acabou por reduzir esse impacto com uma mal encaixada situação no presente.
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Ficha técnica:
Meu Policial | My Policeman | 2022 | 103 min | Reino Unido, EUA | Direção: Michael Grandage | Roteiro: Ron Nyswaner | Elenco: Harry Stiles, Emma Corrin, Gina McKee, Linus Roache, Rupert Everett, David Dawson, Kadiff Kirwan.