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Viagem a Darjeeling (filme)
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Viagem a Darjeeling

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

“Viagem a Darjeeling” é um típico filme de Wes Anderson. Ou seja, repleto de cores fortes saturadas, situações caricatas, personagens irreais, muitas cenas inesquecíveis, movimentos de câmera ousados e uma história que orbita em torno dos seres humanos, centrada em mais de um protagonista.

O filme acompanha a jornada de três irmãos ocidentais pela Índia, organizada pelo mais velho, Francis (Owen Wilson), com a missão velada de encontrarem a mãe. Mas ela se isolou em um convento, mantendo-se afastada da família por anos, sem nem comparecer ao funeral do marido. Para complicar, fica logo evidente que Francis e seus irmãos, Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman, co-roteirista do filme), possuem várias desavenças entre si. Por isso, o primogênito pretende que a viagem constitua uma experiência espiritual para os três.

Logo no início, após nos deslumbrarmos com o tom alaranjado da fotografia, que remete diretamente à Índia, o diretor Wes Anderson brinca com os espectadores. Um táxi corre desesperadamente pelas ruas tendo o ator Bill Murray como passageiro. O destino é uma estação de trem, onde o personagem de Murray deseja embarcar num trem que está partindo naquele momento. Ele sai em disparada atrás da locomotiva, mas é ultrapassado por Peter.

Contrastando com as aceleradas cenas com o taxi, agora a câmera lenta domina a tela e com esse ritmo Peter alcança o último vagão, enquanto Bill Murray é deixado para trás. O veterano ator, descobrimos, não é um dos protagonistas do filme, que passa, então, a acompanhar a jornada de Peter, que em seguida encontrará seus irmãos.

A direção de Wes Anderson

Durante toda a duração de “Viagem a Darjeeling”, a câmera se movimenta muito, principalmente em travellings laterais. Wes Anderson utiliza também, muitas vezes, o zoom in acelerado da câmera, que aproxima rapidamente o plano mais distanciado a um close, como Sérgio Leone praticava regularmente em seus faroestes spaghettis com efeito dramático. É com esse recurso que Anderson demonstra o interesse sexual de Jack pela funcionária do trem Rita (Amara Karan), por exemplo.

Reparem também no plongée utilizado quando Jack entra totalmente deslumbrado num templo totalmente, e o plano acompanha-o tocar o sino até encontrar seus irmãos. Esses maneirismos de Anderson comunicam ao espectador tais nuances que não precisam ser explicitadas verbalmente.

Mas o diretor de “Viagem a Darjeeling” mostra dominar a gramática cinematográfica além dos movimentos de câmera. A bela transição de imagens partindo dos três irmãos indo a um funeral na Índia para os três se dirigindo ao enterro do pai deles transporta o espectador para um flashback desse momento passado. Outra sequência puramente visual encontramos quando os irmãos discutem se embarcarão de volta para casa. O som do avião encobre o diálogo, então, acompanhamos apenas a imagem deles discutindo, sem saber o que dizem um ao outro, provocando um gostoso suspense para se descobrir o que acontecerá.

Nem tudo é fantasia

O filme, às vezes, parece uma fantasia, uma fábula, com situações caricatas que parecem irreais. Porém, o que mantém a história dentro do possível é a interpretação dos atores principais. Afinal, eles vivenciam essas situações com semblantes sérios e não burlescos. Caso contrário, de outra forma levaria o longa metragem para longe da transformação pela qual passam os irmãos, que compreenderão, na cena alegórica em que Francis remove suas bandagens do rosto, que algumas feridas ainda precisam se cicatrizar.

Enfim, eles deverão deixar os bens materiais, herança deixada pelo pai, e a dependência da figura materna, para se unirem e confiarem um nos outros. Seguirão eles seus caminhos juntos, enquanto os personagens secundários desfilarão na tela, cada um em um vagão de trem que simboliza onde cada um deles se encontram, vivendo, pois, a vida deles.


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