Mi Iubita, Meu Amor (Mi Iubita, Mon Amour) revela uma promissora carreira atrás da câmera da atriz Noémie Merlant. Muitos a conhecem como uma das protagonistas de Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu, 2019). Mas, antes de dirigir esse longa, ela realizou dois curtas-metragens, Je suis une biche (2017), de apenas 2 minutos, e Shakira (2019), de 27 minutos. Este último se conecta com essa sua estreia, pois conta com o mesmo ator Gimi Covaci e traz uma protagonista cigana. Covaci, aliás, é o co-roteirista desse novo filme, ao lado de Merlant. Além disso, a história possui muitos pontos em comum com sua família, que inclusive faz parte do elenco.
Em Mi Iubita, Meu Amor, Noémie Merlant vive Jeanne, uma mulher que viaja pela Romênia com três amigas para sua despedida de solteira. Quando o carro delas é furtado, com todos os pertences que tinham, elas se abrigam na casa de Nino e sua família. Então, nasce uma inesperada paixão entre o jovem de 17 anos e a noiva prestes a se casar.
Partes I & II
O filme possui uma estrutura bem definida. A primeira parte, intitulada “Mi Iubita” (“meu amor” em romeno) se passa na Romênia durante essa estadia forçada. É quando Jeanne e suas amigas conhecem a cultura da família cigana, que antes viveu em Paris em moradias provisórias. Assim, elas se colocam na posição daqueles estrangeiros que tentam algo melhor nos países europeus do Primeiro Mundo, como a França. E sofrem muito nessa situação, portanto acabam retornando ao país de origem com algum dinheiro que conseguiram guardar. Mas, agora a família de Nino está em risco por conta de uma dívida com um agiota, que interrompe com violência a celebração do aniversário de Nino, justamente quando a sua família e o grupo de francesas se juntam em harmonia, após alguns atritos iniciais.
Completando a estrutura pré-definida, a segunda parte, “Mon Amour”, começa quando as francesas partem numa viagem de volta de trem. Nino, já loucamente apaixonado por Jeanne, parte às escondidas atrás delas. Bem recebido pelo grupo, ele conhece a praia pela primeira vez, e lá os cinco passam horas felizes se divertindo muito. Desta vez, é o cigano que aprende sobre a cultura das francesas. Em paralelo, Nino e Jeanne se envolvem cada vez mais intensamente, e a sensualidade cresce, desde os flertes, as brincadeiras e a dança, até finalmente a transa.
Explosão de espontaneidade
Apesar dessa estrutura geral segmentada em duas partes, o filme transborda espontaneidade. Como cineasta, Noémie Merlant surpreende ao empregar as doses certas de câmera na mão, somente quando a cena exige, e não o tempo todo como vemos em muitos filmes contemporâneos. O efeito contribui para essa espontaneidade, que se intensifica com as interpretações do elenco, que soam muito verdadeiras. Destacam-se, nesse sentido, as trocas de olhares entre os personagens. Além disso, a diversão na praia exalta a liberdade do grupo, principalmente de Nino, longe de sua família e vivendo sua primeira grande paixão, e de Jeanne, que em breve abandonará essa independência por causa do casamento.
O final é aberto, com várias possibilidades de consequências. Não sabemos se Nino enfrentou o agiota, nem se o casamento de Jeanne continua de pé. Na verdade, não importa. Acima de tudo, o mais significante para esse drama romântico é que a súbita paixão foi interrompida. Como isso representa o essencial para a narrativa, a câmera se concentra no choro de Jeanne dentro do carro, cena que encerra esse potente filme de estreia da diretora Noémie Merlant.
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Ficha técnica:
Mi Iubita, Meu Amor | Mi Iubita, Mon Amour | 2021 | 95 min | França | Direção: Noémie Merlant | Roteiro: Noémie Merlant, Gimi Covaci | Elenco: Gimi Covaci, Noémie Merlant, Sanda Codreanu, Clara Lama-Schmit, Alexia Lefaix, Kita Covaci, Jean Covaci, Giani Covaci, Wallerand Denormandie.
Distribuição: Zeta Filmes.
O filme estreia nos cinemas no dia 22 de setembro de 2022.