A premissa de Minha Morte (Death of Me, 2020) chama a atenção. Um casal, Christine (Maggie Q) e Neil (Luke Hemsworth), passa as férias numa pequena ilha da Tailândia. Certa manhã, eles acordam sem se lembrar do que aconteceu na noite anterior e como voltaram ao chalé que alugaram. E, quando tentam descobrir através de um vídeo que está na câmera, veem Neil matando Christine.
Pena que o roteiro resolva esse mistério da pior maneira possível, recorrendo a uma ideia tão batida que já até parou de ser usada. Apelando para o sobrenatural, o filme revela que Christine está realmente morta, mas voltou por conta de um amuleto mágico. Em outras palavras, ela é um zumbi, apesar de a trama não utilizar esse termo. Christine não sabe disso, e tenta fugir da ilha, mas os habitantes da ilha querem evitar que isso aconteça.
Nesse ponto, Minha Morte tenta replicar o enredo de O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973). No filme de Robin Hardy, os moradores de uma ilha na Escócia querem realizar um sacrifício para manter a tradição da seita local. Da mesma forma, a morte de Christine representa esse sacrifício que os habitantes oferecem para que a ilha seja poupada de um furacão que está se aproximando. Por isso, fazem de tudo para que ela não saia da ilha.
A direção
No entanto, essa mistura entre a tradição e o sobrenatural não funciona. Com ela, a história fica sem sentido. O mais coerente seria tentarem sacrificar Christine para salvar a ilha. Porém, isso deixaria de fora a ideia do vídeo em que ela morre, que representava o toque de originalidade desse projeto. Então, com Christine já morta, o trio de roteiristas resolveu apostar que ela retorna do mundo dos mortos. Essa solução, no entanto, não explica as muitas alucinações que ela tem ao longo do filme, trechos que tentam, em vão, assustar o público.
O diretor Darren Lynn Bousman é um especialista no terror. Ele dirigiu as três primeiras continuações de Jogos Mortais (Saw) entre 2005 e 2007, e ainda o mais recente Espiral: O Legado de Jogos Mortais (Spiral: From the Book of Saw, 2021). Por isso, estranha que dele resulte um filme tão mal realizado como Minha Morte. Ele abusa, sem justificativa, do uso de close no personagem com desfoque do fundo, em muitos casos estragando a locação na paradisíaca ilha tailandesa. Por exemplo, nas cenas em que o casal conversa na praia, que parecem artificiais com esse recurso. No geral, a fotografia, também, está clara demais para um filme de terror, o que tira o efeito assustador dos nativos com os olhos e a boca costurados. Aliás, a produção não usou bem o orçamento, pois a parada do festival conta com uma ridícula quantidade de meia dúzia de participantes.
Além disso, Bousman não se decide se explora a violência gore ou se deixa tudo morno. Essa hesitação se evidencia na cena em que Neil parece cometer um harakiri. Quando ele corta a sua própria barriga, a câmera evita mostrar a violência, permanecendo atrás do ator. Contudo, logo em seguida, vemos ele arrancando suas entranhas para fora, no momento mais gráfico do filme.
Elenco
Para piorar, o elenco está péssimo. A protagonista Maggie Q tenta impulsionar sua carreira com filmes de ação e terror. Ela fez o filme A Ilha da Fantasia (Fantasy Island, 2020), muito similar a este. E, depois encarnou uma matadora de aluguel em A Profissional (The Protégé, 2021). Mas, à parte seu porte atlético, Maggie Q não tem muito a oferecer. Já Luke Hemsworth mostra que é o irmão menos talentoso de Chris e de Liam Hemsworth. Muito fraca, também, é a atuação de Alex Essoe, que tenta ser a duvidosa Samantha. Por fim, até mesmo os figurantes mostram que não foram bem preparados. Quando o grupo de nativos olha para os protagonistas sorrisos amarelos, é mais fácil acharmos a cena engraçada do que amedrontadora.
Enfim, sem assustar nem empolgar, Minha Morte joga no lixo uma ideia promissora.
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Ficha técnica:
Minha Morte | Death of Me | 2020 | Estados Unidos, Tailândia | 94 min | Direção: Darren Lynn Bousman | Roteiro: Ari Margolis, James Morley III, David Tish | Elenco: Maggie Q, Luke Hemsworth, Alex Essoe, Kat Ingkarat, Kelly B. Jones, Caledonia Burr, Chatchawai Kamonsakpitak, Sahapoom Totrungsup.
Distribuição: A2 Filmes.
