Como o estilo minimalista e anticlimático da cineasta Kelly Reichardt funcionaria num filme de suspense? Pelo que vemos em Movimentos Noturnos (Night Moves), não funciona. Como já aconteceu no melodrama Wendy e Lucy (2008), quando precisa abrir mão das características de seu cinema, Reichardt não demonstra a força de suas obras mais poderosas, como Antiga Alegria (Old Joy, 2006), O Atalho (Meek’s Cutoff, 2010) e First Cow (2019).
Ainda assim, apresenta algumas belas cenas em Movimentos Noturnos. Por exemplo, o plano com as silhuetas de pessoas dançando em primeiro plano, tendo o protagonista interpretado por Jesse Eisenberg ao fundo, isolado e preocupado. Ou a cena do assassinato numa sauna com vapor que deixa a visão turva. Mas o ritmo lento não combina com o gênero do suspense, e o filme aborrece com sua ausência de emoção. Uma prova de que essa característica autoral de Reichardt prejudica o filme é a planejada explosão da hidrelétrica, que fica apenas na elipse.
Na trama, Josh (Jesse Eisenberg), Dena (Dakota Fanning) e Harmon (Peter Sarsgaard) são ambientalistas que participam dessa explosão. Mas a operação leva a uma morte, o que gera um estresse forte em Dena. Por isso, os outros temem que ela acabe confessando o crime e colocando todos em perigo. Como se pode ver, é uma premissa que pede pela tensão crescente, algo que o filme não entrega. O único momento em que isso acontece é na citada cena do assassinato, o melhor trecho do longa.
Apesar disso, Movimentos Noturnos está acima da média, pois o ritmo lento que impede o suspense não esconde o talento de Kelly Reichardt em filmar tudo com os melhores enquadramentos e movimentos de câmera.
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Ficha técnica:
Movimentos Noturnos | Night Moves | 2013 | 112 min | EUA | Direção: Kelly Reichardt | Roteiro: Kelly Reichardt, Jonathan Raymond | Elenco: Jesse Eisenberg, Dakota Fanning, Peter Sarsgaard, Alia Shawkat, Logan Miller, Kai Lennox, Katherine Waterston.