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Listen

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Listen retrata a luta de um casal contra a burocracia de um país estrangeiro para conseguir seus filhos de volta.

A atriz portuguesa Ana Rocha de Sousa estreia em direção de longas com Listen, mostrando muito talento. O filme foi a escolha de Portugal para concorrer ao Oscar, mas não se qualificou por conter mais da metade de seus diálogos em inglês.

O uso do idioma inglês se justifica, pois sua história acontece em Londres, onde vivem os portugueses Bela e Jota, com seus três filhos: a bebê Jessy, a menina Lu e Diego, de 13 anos. A já dura vida de empregos temporários se agrava mais ainda quando a escola de Lu, que tem deficiência auditiva, denuncia a família ao Serviço Social. Devido a manchas nas costas da menina, a funcionária acredita que as crianças sofrem agressões dos pais. Logo, o Serviço Social toma os filhos de Bela e Jota, num processo muito rápido, deixando-os desesperados e sem ter como lutar.

A direção

Como se pode notar, a trama possui alta carga dramática, e a diretora Ana Rocha evidencia esse pesadelo com as atuações tocantes de Lúcia Moniz e de Ruben Garcia como os pais. E, também, da surpreendente Maisie Sly, que é de fato surda. Ademais, o oficial do Serviço Social, interpretado por Brian Bovell, encarna a intransponível burocracia britânica que vimos nas telas nos filmes do diretor britânico Ken Loach – por exemplo, em Eu, Daniel Blake (I, Daniel Blake, 2016). Listen chama esse inimigo de “sistema”, mas é quase um esquema, que acelera os processos de adoção de crianças porque pessoas querem adotá-las para receber dinheiro do governo por isso.

A espiral de acontecimentos que assola a família de Bela e Jota torna o filme ágil, mas a cineasta Ana Rocha se preocupa em não deixar que o seu longa se torne um filme de ação. Por isso, apresenta muitas cenas do sofrimento do casal protagonista, afastados compulsoriamente de seus filhos. Nelas, vislumbra-se a difícil tentativa de Jota de se manter calmo, e evitar uma reação impensada de Bela, pois isso pode prejudicar a situação. Por outro lado, o filme também sai da perspectiva do pai e da mãe, e revela o que está acontecendo com os filhos Lu e Diego, evitando que o tom se torne claustrofóbico.

Por outro lado, o filme não apela para ganhar a empatia do público. De fato, em sua parte inicial vemos Bela furtando comida do mercado, e deixando os filhos menores aguardando sozinhos no meio de latões de lixo. E a situação de luta pela sobrevivência a deixa constantemente nervosa, o que provoca a desconfiança da funcionária da escola, e também do espectador. Aos poucos, conheceremos melhor a personagem principal e, então, embarcamos ao lado dela em sua luta pelos filhos.

Reflexão

Acima de tudo, a intenção é dramatizar a situação e provocar reflexão, por isso, ela replica os “pillow shots” de Yasujiro Ozu. São aqueles planos rápidos, sem personagens, que não têm relação direta com a trama, como um detalhe do prédio onde mora a família de Bela. E, eles servem justamente para que o espectador tenha tempo para digerir o que acontece na trama.

Além disso, Ana Rocha também estende alguns planos, mantendo a câmera filmando mesmo após a saída dos personagens. Esse recurso surge com força na cena final, quando a família sai da instituição com um dos filhos, provavelmente saindo também do país. É o desfecho amargo de um sonho de oportunidades em um país no exterior que se transformou num terrível pesadelo.    


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