Poucas emoções na versão live action de Mulan, da Disney.
Apesar da produção caprichada, o filme mantém a temperatura morna. Afinal, a sua preparação aponta para picos de emoção que nunca são atingidos. Na verdade, temos a impressão de que a heroína não está ainda apta para enfrentar a poderosa vilã, a bruxa. De fato, é o que aparenta o primeiro confronto entre as duas, quando Mulan é facilmente derrotada. Por isso, o filme evita a aguardada batalha épica entre elas. Como consequência, a emoção é deixada de lado.
A história
Na história, Mulan nasce com o dom de possuir um chi incomumente poderoso. Porém, seu pai a obriga a esconder esse poder, caso contrário, ela será taxada como bruxa pelos habitantes da vila onde moram.
Quando Mulan já está adulta, guerreiros rouran comandados por Bori Khan, e auxiliados por uma bruxa, começam a atacar feudos com vistas a dominar o império chinês. Por isso, o imperador exige que todas as famílias enviem um membro masculino para formar um enorme exército. No caso da família Mulan, o único homem é o pai, que foi ferido numa guerra anterior e possui uma perna com deficiência. Apesar disso, ele se alista, mas Mulan toma secretamente seu lugar, sendo obrigada a esconder do restante do pelotão o fato de ser uma mulher. Adicionalmente, ela precisa ocultar seus poderes especiais.
Porém, quando o batalhão imperial está prestes a ser dizimado pelos rourans e pela bruxa, Mulan é obrigada a revelar seu chipara salvá-lo. Em termos de ação, é a melhor sequência, com algumas lutas corporais e efeitos especiais convincentes. Pelo menos nesse trecho, o filme aproveita a oportunidade de utilizar as artes marciais inerentes à estória. Após ser expulsa do exército, Mulan retornará novamente para defender o ataque inimigo à cidade imperial.
Woman power
A diretora neozelandesa Niki Caro despontou no cinema em Encantadora de Baleias (2002). Aliás, filme que também lidava com uma jovem com um destino negado pela sua família. Por isso, não surpreende o filme se destacar pela construção do arco de sua personagem, uma garota que possui um poder enorme sufocado pela sociedade machista. Ou seja, a estória se encaixa muito bem na bandeira do empoderamento feminino.
Mas, além do problema das fracas, ou mesmo ausentes, cenas de ação, Mulan também recorre demasiadamente a alguns clichês. Por exemplo, repare na tentativa da bruxa de convencer Mulan a se aliar a ela, tal qual Darth Vader fez com Luke Skywalker, chamando-o para o lado negro da força. Ou então, quando, um a um, os soldados declaram seu apoio a Mulan, lembrando a célebre cena em Spartacus (1960).
Como resultado, Mulan se tornou um filme plasticamente bonito, com temática atual e relevante, porém com emoções brandas.
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Ficha técnica:
Mulan (Mulan) 2020. EUA/Canadá/Hong Kong. 115 min. Direção: Niki Caro. Roteiro: Rick Jaffa, Amanda Silver, Lauren Hynek, Elizabeth Martin. Elenco: Yifei Liu, Donnie Yen, Li Gong, Jet Li, Jason Scott Lee, Yoson An, Tzi Ma, Rosalind Chao, Pei-Pei Cheng, Xana Tang.
Distribuição: Disney Plus