Na Praia de Chesil (On Chesil Beach) se sustenta na força do livro de Ian McEwan, que também é o autor do roteiro. O escritor já viu suas obras ganharem a tela em várias ocasiões. A mais famosa adaptação é Desejo e Reparação (Atonement, 2007), de seu livro “Reparação”. E a mais recente, Um Ato de Esperança (The Children Act, 2017).
A trama romântica de Na Praia de Chesil carrega aquele peso do arrependimento por uma decisão errada que definiu o restante da vida do casal de amantes. Um tema que, aliás, também está presente, com outra variação, em Desejo e Reparação. Edward (Billy Howle) e Florence (Saoirse Ronan) se casam ainda muito jovens. São virgens, e no dia do casamento encaram o sexo como um grande mistério. Sozinhos no quarto de hotel à beira da Praia de Chesil, famosa por ter seixos no lugar de areia, permitem que o medo causado pela inexperiência prejudique o inegável amor que sentem um pelo outro.
A narrativa
A estrutura narrativa representa outro ponto forte do filme. O dia de núpcias no hotel, em 1962, ocupa dois terços de sua duração, mas é entremeado por trechos de flashback provocados por algum ponto desse encontro que remete a uma lembrança específica. Dessa forma, conhecemos quem são esses protagonistas, de classes sociais diferentes e famílias bem peculiares (principalmente a de Edward). E, também, como o relacionamento deles se desenvolveu até o amor que os uniu tão cedo num matrimônio. Mas o medo do desconhecido conduz à desconfiança, da própria Florence, de que ela é frígida. Enquanto isso, o mesmo medo pressiona Edward a admitir que o problema é todo da noiva, quando ele também desconhece o que fazer com uma mulher na cama.
Os dois terços finais acontecem anos depois. O primeiro trecho em 1975, mostra apenas Edward. Ele é um vendedor em uma loja de discos que, acidentalmente, conhece a filha de Florence, a quem nunca mais viu. O segundo, em 2007, revela o derradeiro encontro entre os dois, que lamentam o amor verdadeiro que eles não souberam assumir para a vida inteira. Nesses dois epílogos, o roteiro evita as palavras para confirmar esse sentimento de perda e lamentação. Assim, acerta, pois tudo fica muito evidente sem a necessidade de expressão verbal, e, além disso, mais sensibilizador.
A direção
Porém, se o roteiro é virtuoso, o mesmo não se pode dizer da direção. Na Praia de Chesil marca a estreia de Dominic Cooke na função. Sem os cacoetes necessários, comete erros de raccord e aplica cortes abruptos dentro das cenas que quebram a fluidez da narrativa. Em certos trechos, como o da discussão derradeira na praia, aproxima a cena de uma peça de teatro, deixando os atores se expressarem num tom mais coerente dos palcos do que da tela. Resquícios, talvez, de seu trabalho anterior como diretor de uma transmissão de uma apresentação teatral.
Mas, em alguns outros momentos, consegue construir enquadramentos bem elaborados. Por exemplo, a última cena, que retoma a separação na praia, mantendo Edward no primeiro plano à direita, enquanto Florence caminha em direção à esquerda, cada vez mais longe dele. A câmera se move lateralmente, para manter a moça no quadro por mais tempo, como se quisesse evitar o afastamento.
A história de Na Pria de Chesil soa autêntica. Trata com delicadeza a inexperiência dos jovens que se amam mas não são amantes, e até surpreende com o desfecho longe do ideal para eles.
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Ficha técnica:
Na Praia de Chesil | On Chesil Beach | 2017 | 1h50 | Reino Unido | Direção: Dominic Cooke | Roteiro: Ian McEwan | Elenco: Billy Howle, Saoirse Ronan, Anne-Marie Duff, Adrian Scarborough, Emily Watson, Mia Burgess, Anna Burgess, Bebe Cave, Samuel West, Mark Donald, Imogen Daines.