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Na Trilha do Sol (filme)
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Na Trilha do Sol

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

Michael Cimino se perde “Na Trilha do Sol”

Em três quartos de “Na Tilha do Sol”, Michael Cimino comprova, como demonstrou em “O Franco Atirador” (The Deer Hunter, 1978), que domina a narrativa tensa. Contudo, o filme não é só tensão.

Dr. Michael Reynolds (Woody Harrelson desta vez na pele de um pacato cidadão) é um médico com carreira ascendente no hospital da UCLA, em Los Angeles. Prestes a receber um convite para assumir o cargo de diretor, ele é sequestrado por Brandon ‘Blue’ Monroe (Jon Seda), perigoso psicopata de apenas 16 anos que recentemente se torna seu paciente. Blue cumpre pena, mas como se encontra com câncer em estado crítico, vai ao hospital para um exame.

Blue pretende, com esse sequestro, fugir para o Arizona, rumo a uma montanha sagrada da tribo navajo, de quem ele é descendente. Com poucas chances de sobreviver à sua doença, o rapaz acredita na cura milagrosa através de um banho no lago em Shiprock.

Sequestro

O filme possui uma habilidosa construção em seu início, quando captamos a essência dos dois personagens principais. Através de comentários dos policiais do reformatório onde Blue cumpre pena, a agitada música dos anos 1970, e cortes variados, entendemos que Blue é um ser perturbado, perigoso e imprevisível. Porém, é um garoto ainda, que sonha encontrar um lugar mágico que solucionará seus problemas. Há uma bela cena em que ele, enquanto é transportado no carro da polícia, olha para a foto da montanha mágica em um livro, com justaposição da imagem dos arranha-céus de Los Angeles à frente.

Enquanto isso, observamos o Dr. Reynolds, chegando ao hospital em um Porsche, respeitado em seu local de trabalho, mas que cumpre sua rotina burocraticamente. Ele, por exemplo, interrompe um diagnóstico de um paciente para conversar ao telefone com sua esposa materialista, preocupada com a compra de uma nova casa de dois milhões de dólares.

O contraponto das duas vidas fica evidente em uma sequência onde acompanhamos o médico se divertindo com a esposa e amigos em um restaurante. Enquanto a cena com o grupo privilegia as cores quentes, Blue está em sua cela iluminada com luz fluorescente que acentua as cores frias do local.

Consequentemente, quando os dois se encontram, há muita tensão. Esse clima cresce ainda mais quando Blue coloca seu plano de sequestro em ação. O rapaz representa o mal que supostamente não tem lugar na vida certinha do médico. Ele pode perder tudo se o desequilibrado Blue resolver puxar o gatilho de seu revólver. Aliás, essa situação costuma funcionar bem no cinema, como em “Cabo do Medo” (Cape Fear, 1991) ou “Círculo do Medo” (Cape Fear, 1962).

Rumo ao Arizona

“Na Trilha do Sol” se transforma em um road movie quando os dois pegam a estrada rumo ao Arizona. O clima nervoso continua forte, pois, enquanto discutem constantemente, Reynolds está sempre à procura de uma forma de escapar.

Com o tempo, como esperado, considerando as fórmulas hollywoodianas, os personagens passam por uma transformação e o perigo diminui. É aí que o filme perde o interesse. As ameaças de morte dão lugar a discussões sobre crenças e espiritualidade. Reynolds possui um trauma de infância, que surge em cenas de flashback em preto e branco, mas que demora demais para se desenrolar. Dessa forma, o espectador se irrita porque já descobriu o que aconteceu desde a primeira cena de recordação.

A personagem Victoria Reynolds, esposa de Michael, vivida por Alexandra Tydings, também dá nos nervos, por ser tão mal desenhada. Faz todo sentido para a história caracterizá-la como materialista, mas exageraram no tom “perua” dela. Reparem no vestido que ela usa no jantar formal com o chefe de Michael e sua esposa; Victoria parece uma garota de programa com aquele decote escandaloso. Até mesmo em sua casa, quando policiais estão presentes para investigar o sumiço do marido, ela veste uma minissaia curtíssima.

A sequência final, que deveria inundar a tela com lirismo e alta espiritualidade acaba estragando de vez o filme. Com uma trilha sonora, de Maurice Jarre, que não combina com o momento, essa cena soa piegas e demasiadamente ingênua. Principalmente com a solução preguiçosa de representar visualmente o destino de Blue.

Em resumo, Michael Cimino perde o rumo de “Na Trilha do Sol” quando a história deixa de ser tensa.


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