Não é novidade o gênero terror usar o mal como representação, seja da guerra fria, do anticomunismo, ou outras. Em Não Abra!, primeiro longa do diretor Bishal Dutta, a questão é a não aceitação das suas origens. No caso, a adolescente Samidha (Megan Suri), filha de imigrantes indianos nos EUA, quer se afastar das tradições dos seus pais para se enturmar com as colegas americanas da escola. Com isso, se afasta também da sua melhor amiga Tamira (Mohana Krishnan) que, no momento está apresentando comportamentos estranhos. Segundo essa garota, ela aprisionou um ser malévolo em um recipiente de vidro. Mas, sem querer, Samidha deixa o vidro cair no chão e se quebrar.
À medida que a história avança, os personagens descobrem que esse mal se trata do mítico demônio carnívoro Pishacha. Para enfrentá-lo, Samidha deverá pedir ajuda à sua mãe e aceitar suas raízes indianas. Entre elas, respeitar a data comemorativa contra a qual ela se revolta. Assim, para reforçar esse tema, o confronto contra o monstro depende de uma oração. Antes disso, vale apontar que o mal chegou a esse bairro por meio de um outro menino indiano que veio da Índia. Por fim, na conclusão, fica evidente que o recipiente específico que novamente aprisiona Pishacha representa claramente a aceitação das origens como parte de si mesma.
Esse tema, embora não seja original, traz a força da autenticidade, pois reflete a experiência de Bishal Dutta, o diretor e roteirista do filme. O problema está nessa dupla função, pois poucos conseguem filmar bem o que escreveu. Ainda mais quando se trata de um realizador com pequena experiência, como acontece aqui. De fato, Bishal Dutta se mostra melhor como roteirista do que como diretor.
Terror que não assusta
Deriva dessa constatação a incapacidade de Não Abra! entregar o que se espera de um filme de terror. Os sustos são poucos e nada eficientes. Os pesadelos e as alucinações são confusos, parecem ser de Samidha, mas quem aparece no final dessas cenas é Tamira. A violência possui pouco impacto, como se buscasse uma classificação para um público mais jovem (veja a morte do garoto Russ, por exemplo). Além disso, a montagem deixa em dúvida se a protagonista vai à escola no dia seguinte à morte de Russ. Isso seria estranho, mas pior que isso o filme cometeria o pecado de não mostrar a reação preconceituosa dos amigos em relação a uma possível responsabilidade sobre o assassinato do amigo, reação que seria essencial para o tema do filme.
No entanto, o pior de tudo é a materialização do Pishacha. O monstro que enfrenta Samidha parece um Godzilla em miniatura. Basicamente, uma pessoa vestida com uma prótese de borracha. Desse jeito fica difícil sentir algum medo.
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Ficha técnica:
Não Abra! | It Lives Inside | 2023 | 99 min | EUA | Direção e roteiro: Bishal Dutta | Elenco: Megan Suri, Neeru Bajwa, Mohana Krishnan, Betty Gabriel, Vik Sahay, Gage Marsh, Beatrice Kitsos.
Distribuição: Imagem Filmes.