Embora seja a velha história do personagem com doença terminal que precisa cumprir uma missão antes que seja demais, Não Me Diga Adeus (Don’t Make Me Go) consegue soar original. O roteiro da estreante Vera Herbert introduz elementos inesperados na trama, e o desfecho é uma surpresa. E, na direção de seu terceiro longa, Hannah Marks demonstra jovialidade guiada por bom senso.
No enredo, Max Park (John Cho) assumiu sozinho a criação de sua filha Wally (Mia Isaac) depois que sua esposa foi embora. Agora, aos 15 anos, ele descobre que tem um tumor cerebral e duas opções. Se decidir por uma cirurgia, a probabilidade de sucesso é de apenas vinte porcento. Então, prefere aceitar que só tem um ano de vida e, nesse período, se esforçará para deixar tudo bem encaminhado para Wally. Acima de tudo, ele quer que ela conheça a mãe. Por isso, os dois iniciam uma viagem até Louisiana, e depois até Tampa. Dessa forma, Não Me Diga Adeus entra no modo road movie.
Max e Wally
Os dois protagonistas fogem do estereótipo. Max não é o coitadinho que foi abandonado pela esposa infiel, como a trama revela aos poucos. Mas ele se esforçou em dar uma boa criação para sua filha. Na verdade, até demais, pois para isso abdicou de quem ele era. Por exemplo, deixou a carreira musical para trás e nunca decidiu se casar novamente, nem mesmo com a mulher com quem sai frequentemente, Annie (Kaya Scodelario). Em suma, ele resolveu não se arriscar, pois como homem de família ele acredita que precisa priorizar a segurança.
Já Wally é seu oposto. Ela quer experimentar coisas novas, se arriscar. Por isso, entendemos sua atitude atirada de sair para uma festa com o desconhecido funcionário do hotel onde ela e o pai se hospedam. E essa filosofia de vida será crucial para ela influenciar uma mudança na vida de Max. Aliás, a cena no cassino é emblemática em relação a essa diferença entre os dois quanto a assumir riscos.
O filme se divide entre a perspectiva de Max e Wally. Há momentos em que vemos cada um deles em separado, o que nos permite entender suas personalidades. Com isso, sabemos o motivo de Max iniciar a viagem sem contar o real segredo para sua filha. E, da mesma forma, sentimos empatia por Wally e sua ânsia por experimentar tudo que a vida lhe oferece, mas sempre com sensatez. Tudo soa muito fluído e, na parte final, as peças se encaixam sem forçar a barra.
Fica ainda aquela gostosa sensação tipica de filme de Frank Capra, ou seja, um pé no fantástico, como se Wally fosse o anjo de A Felicidade Não Se Compra (It’s a Wonderful Life, 1946), mostrando ao protagonista que ele deveria mudar a sua postura em relação à vida.
Outros pontos
De forma natural, o filme também pensa na inclusão racial, ao optar por construir protagonistas que não são brancos. Max é asiático e sua filha nasceu de sua relação com sua esposa negra. É uma quebra de paradigma, um rompimento de padrões comerciais que ainda predominam no cinema norte-americano.
Em meio a todos esses acertos, é preciso, no entanto, destacar um equívoco da diretora Hannah Marks. Talvez para dar um ar de moderno, ou para tornar mais leve o filme, os gráficos com os nomes dos créditos ou das cidades ao longo da viagem interagem com a mise-en-scène. Por exemplo, o nome surge entre os personagens e o fundo da cena, ou desaparecem quando o carro passa por ele. Além de desnecessário, esse recurso coloca o espectador para fora do enredo, lembrando que se trata de um filme. É verdade que Hannah Marks demonstra preocupação em não criar momentos emocionalmente apelativos, mas essas intervenções gráficas incomodam.
Enfim, mesmo esse incômodo contribui para o frescor de Não Me Diga Adeus, um drama que prefere fugir da zona de conforto para contar sua história.
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Ficha técnica:
Não Me Diga Adeus | Don’t Make Me Go | 2022 | 1h49 | EUA | Direção: Hannah Marks | Roteiro: Vera Herbert | Elenco: John Cho, Mia Isaac, Kaya Scodelario, Josh Thomson, Otis Dhanji, Stefania LaVie Owen, Mitchell Hope, Jen Van Epps.
Distribuição: Prime Video.