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Não Olhe Para Cima (filme)
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Não Olhe Para Cima

Avaliação:
9/10

9/10

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Crítica | Ficha técnica

Em Não Olhe para Cima (Don’t Look Up, 2021), Adam McKay amplia os alvos de seu sarcasmo – e acerta em todos.

O diretor Adam McKay se tornou interessante somente a partir de seu sexto filme, A Grande Aposta (The Big Short, 2015), no qual surrupiou o estilo frenético de Martin Scorsese em O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013). A emulação deu tão certo que McKay até ganhou o Oscar de roteiro adaptado (ao lado de Charles Randolph), além de ser indicado a melhor diretor e o longa concorrer a melhor filme, ator coadjuvante (Christian Bale) e edição (Hank Corwin). Este último quesito marcou os dois filmes, o de Scorsese de McKay, ambos com cortes acelerados e planos curtíssimos. Além disso, eles atacaram o mercado financeiro especulativo.

Adam McKay repetiu a fórmula em seu filme seguinte, Vice (2018), que também foi prestigiado pela Academia. Recebeu oito indicações, inclusive nas categorias mais importantes, mas ganhou apenas o prêmio de melhor maquiagem e cabelo. A vítima de seu humor ácido foi o mundo da política estadunidense.

Ao que parece, o prestígio desses filmes o colocou em outro rumo, longe das comédias besteirol que vinha fazendo ao lado de Will Ferrell. E, de fato, Não Olhe para Cima confirma essa hipótese, pois é o terceiro longa que segue o formato de O Lobo de Wall Street. Desta vez, McKay traz dois dos principais atores desse filme de Scorsese, Leonardo DiCaprio e Jonah Hill, além do ritmo frenético e do humor corrosivo. Com essas armas, ataca novamente a política dos EUA, bem como os bilionários da tecnologia, as redes sociais, a imbecilidade das pessoas, o jornalismo, o patriotismo exacerbado dos filmes catástrofe hollywoodianos etc.

A trama

O estilo atual de McKay surge nas telas logo após o prólogo, através de uma citação sarcástica, e um grafismo que apresenta o Departamento de Defesa Planetária da NASA. Na trama, os cientistas Dr. Randall Mindy (DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) descobrem que um cometa com dez quilômetros de diâmetro colidirá com a Terra em seis meses. A queda significará a destruição do planeta, e eles tentam alertar o governo sobre essa ameaça. Porém, a Presidente dos EUA, vivida por Meryl Streep, só está interessada em sua reeleição. Então, a princípio, não dá nenhuma bola para o aviso dos cientistas.

Depois, quando percebe que pode usar esse fato a seu favor, se alia ao multimilionário da tecnologia Peter Isherwell – Mark Rylance em uma impagável versão de Bill Gates/Steven Jobs, com discursos visionários de salvação do planeta. Juntos, tentarão uma arriscada operação para que o cometa aterrisse em pequenos pedaços para que se se possa aproveitar os ricos minerais que ele contém.

Diante da recusa do governo em tomar medidas, Randall e Kate tentam alertar as pessoas através da mídia. Porém, os âncoras do programa de TV no qual participam se restringem a dar notícias amenas e futilidades. Além disso, a apresentadora Brie Evantee (Cate Blanchett) fica atraída por Randall e o desvirtua de sua missão. Esse desvio constitui ponto crucial no arco desse protagonista, que tentará uma redenção ao final. Por outro lado, Kate perde credibilidade pública ao se desesperar no programa de Brie, mas se mantém honesta consigo mesma até a conclusão.

Impacto

Não Olhe para Cima traz várias referências que acrescentam humor ao enredo. Por exemplo, a já previsível alusão ao patriotismo americano em filmes como Independence Day (1996), nos quais os EUA devem salvar o planeta da extinção. É muito engraçada também a figura do militar extremista de direita, Benedict Drask (Ron Perlman), que pilota a nave que tenta explodir o cometa. Durante o trajeto, cantarola como o militar que lança a bomba atômica em Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964). Nesse filme, Stanley Kubrick usava o humor negro para criticar a guerra.

Além disso, Não Olhe para Cima soa muito atual, porque mostra um mundo divido entre aqueles que acreditam que o cometa existe e aqueles que não. Na história, isso surge um pouco tarde demais, quando a Presidente dos EUA já iniciou a missão sugerida por Peter Isherwell. De qualquer forma, serve como uma metáfora da atual situação que vivemos hoje, quando ocorre a cisão entre aqueles que acreditam na pandemia e aqueles que não. Em outras palavras, entre aqueles que acreditam na ciência e aqueles que não. Tanto no filme como na vida, interesses pessoais tendem a desvirtuar essa questão.

Por fim, não perca as duas cenas pós-créditos. A primeira, logo após os nomes principais, mostra o destino de uma missão de salvamento. A segunda, revela quem é o único sobrevivente na Terra.

Inteligente

Apesar de o roteiro não ser perfeitamente amarrado, vide essa inclusão fora do tempo da discussão sobre a existência do cometa, esse filme de Adam McKay produz aquela sensação de inteligência que seus últimos dois longas produziram. Através dos planos curtíssimos e flashes, introduzidos no meio da trama em grande quantidade, Não Olhe para Cima provoca inúmeras conexões no cérebro, como se fossem cientificamente calculados para estimular o público. Enfim, é um cinema provocador e instigador esse que Adam McKay aprendeu assistindo Scorsese.


Não Olhe Para Cima (filme)
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